Que pelo
menos no dia de hoje
Se restaure
a dignidade da verdade
E se diga às
crianças que a História
É só a
versão do vencedor.
Vamos
demolir mitos,
Caracterizar
a verdade,
Desmascarar
a mentira:
Portugal não
descobriu o Brasil
Porque inscrições
nas pedras
E mapas
anteriores a 1500
Mostram
chineses e fenícios
Passeando
por aqui.
Independência
por amor a nós
Ou o
príncipe preservou território,
Certo de que
Napoleão cearia
Nas mesas e
camas da Península Ibérica?
Proclamação
da República por anseio
Popular ou
golpe militar, o primeiro
Como
primeiro degrau de próximos?
Tiradentes
pobre coitado?
Dentista,
rico, dono de tropas de burros
Transportando
gemas preciosas e ouro,
O
equivalente a hoje dono de caminhões,
Insurgindo-se
não por amor à pátria,
Mas pela
indignação contra portugueses
Investindo
pesado em seus bolsos,
Lapidando
impostos escorchantes
No que
chamavam Derrama.
Período
revolucionário? Revoluções
Pressupõem
mudanças
E não a manutenção
do status quo.
Foi golpe
militar mesmo, traição
Ao
presidente da república, insubordinação,
Motim cotra
o comandante em chefe
Das forças
armadas, a serviço do Império,
Ordenado e
dirigido pelo Pentágono.
Mas há
mazelas piores e que fedem,
Devidamente
escondidas sob tapetes:
A tríplice
Aliança, a Guerra do Paraguai:
Solano Lopes
fechou fronteiras,
Mandou seus
jovens para a Europa,
Para estudar
e voltarem aptos na ajuda,
No fomento
do progresso.
Fez a
primeira reforma agrária na América,
Buscou a
modernização e a igualdade,
E a
Inglaterra, os Estados Unidos da época,
Armou
Argentina, Uruguai e Brasil,
Lançando-nos
como cães raivosos
Sobre a
primeira Cuba do mundo.
Houve
raptos, saque, tortura, mortandade
Tanta que
ainda hoje se recuperam.
Houve casos
de milharais incendiados
Para
queimarmos crianças e mulheres,
Velhos
escondidos, querendo viver.
Mas tivemos
também um Paraguai interno,
Canudos.
Apoiado no que diz a Bíblia,
Acreditando
que tudo é coletivo e comum,
Pertencente
a todos, um fanático religioso,
Segundo os
historiadores burgueses,
Resolveu
criar uma república independente
No sertão,
nos moldes dos primeiros cristãos,
Comunistas
em partilha de peixe e pão.
Percebendo
que a ideia crescia e logo seria
Mais que
regional, nacional, estropiaram-nos,
Inaugurando
o primeiro Araguaia,
Mais uma
guerra paraguaia, até só restarem
Uns poucos,
com armas artesanais e sem água,
Contra todo
um exército em fúria e ódio.
A anexação
do Acre, em troca
De uma
estrada de ferro
Ligando nada
a merda nenhuma,
Para escoar
contrabando.
Isso depois
das autoridades bolivianas
Serem
corrompidas por bom dinheiro.
Na história
oficial a classe dominante se justifica.
É preciso
acordarmos os nossos heróis,
Tirá-los do
anonimato dos vencidos
E mostrá-los
em toda a sua integridade,
Percorrer
senzalas e quilombos e descobrir
Os muitos
Zumbis dos Palmares,
Os
enumeráveis Antonios Conselheiros,
Os
Virgulinos Lampiões, Robin Hoods tropicais,
Os
torturados e mortos nos cárceres
Da ditadura
militar, os execrados
Em processos
forjados, com autos adulterados.
É preciso inaugurarmos
a dignidade nacional
E
suprimirmos do vocabulário o que os convém:
Um povo
preguiçoso e malandro. Como,
Se a sexta
potência econômica do planeta?
Acaso quem
transforma solo em riqueza
E se desfaz
pondo de si no que fabrica
É o
empresário, o líder religioso...
Os que fazem
do produto de todos seus uso frutos?
Nordestinos
burros, negros inferiores,
Mulatos
incompetentes, índios inúteis,
Povo
cordeiro, todos desonestos...
Onde está a
desonestidade senão nos terroristas
Da verdade,
nos que nos pintam assim
Para
justificar as próprias consciências
Acusando
pelos maus tratos e a exploração?
É preciso
ensinar às nossas crianças a verdade.
Só assim nos
olharemos nos espelhos com orgulho,
Deixando de
fazer feriado no dia da Ré Pública
Para
comemorarmos a Proclamação da República.
Francisco
Costa.
Rio,
15/11/2013.