segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Vergo-me,
Impertinência que se subtrai
No rebanho da acomodação.

Não nasci para o comedimento,
As mesuras do bom comportamento,
Os delicados votos de apreço
E submissão ao poderoso de plantão.

Impostura desfraldada nos sorrisos,
Minha missão é conter sorrisos,
Dispersar a disciplinada manada,
Romper cercas e instalar a revolta.

Este o meu destino, buscar caminhos,
Criar picadas, descobrir atalhos,
Ainda que ao preço de retalhar-me
Pedaços, partes perdidas, cacos
Que se dispersam no sal e no vento.

Cada homem é uma trincheira calada,
Uma linha de contenção mal feita,
Um arresto de batalhas perdidas
Esperando a voz que o acorde
E reinaugure a guerra, o avanço
Sobre o que o quer imobilidade
Na dança da vida.

Conforta-me saber que não sou único,
Senão mais um com as presas à mostra,
Esperando o cochilo da vítima.

Poderão nos roubar as lâmpadas,
Mas não poderão apagar o sol
Que voltará a brilhar intenso,
Livre das nuvens que o esconderam.

Francisco Costa

Rio, 22/01/2017.

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