Agora que já me dei,
Como paixão tardia
Tu chegas, inspiração?
Anuncie-me então o que escrever.
Já vazio porque exposto antes,
Em poema anterior, que dizer?
Que na noite constelada, lá fora,
A vida segue os seus trâmites,
Entre tragédias, comédias e dramas?
Que por certo alguma namorada chega,
Ávida de carícias e comunhão,
Úmida e luminosa, toda atenção?
Que outra chora o abandono no portão,
Percorrendo os labirintos da saudade,
Minuciosa, matando por antecipação
O sonho que acreditou eterna a noite?
Há bêbados, o vendedor de flores,
E nada mais romântico que floristas,
Os municiadores de encantos.
Quem resiste a uma flor, simetria
De insinuações explícitas, convite,
Passaporte para sim, quero e pode?
Há crianças retardando o sono,
E beatas retornando para casa,
Livres de pecados, com espaço
Para pecados novos, e a lua.
A lua é caso a parte, amante
E cúmplice na insônia, nos poemas
Que germinam nas madrugadas,
Ora trêmulos e impacientes,
Encharcados de hormônios,
Acordando mulheres imaginárias,
Seduzindo-as, incontinente,
Sem que saibam.
Há os que surgem babando ódio,
Exigindo disciplina e contenção
De quem os escreve, irados,
Lacerando como punhais.
E os inocentes, de palavras leves
E ritmo de valsa, bailando
Com passos miúdos, elegantes,
A canção que nos habita
E nos condena poeta,
Ser estranho que sorri
Em estrofes,
E chora versejando, só,
Porque amante da lua,
A mulher exata,
Que por ser exata
Com ele não deitará.
Francisco Costa
Rio, 15/01/2017.
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