Inesperado e sorridente
O natal bateu em minha porta,
Ávido para entrar. Não deixei.
Como ostentar felicidade
Em meio a corpos infantis
Sangrando na Síria e por aí,
Em subúrbios e em mim?
Como erigir uma taça de vinho
Em honra a um nascituro
Que morrerá precoce,
Porque em opção pelo pobre?
Como pronunciar Jesus,
Pedindo fortuna e benesses,
A quem de seu só tinha
Um manto e chagas, muitas,
No corpo e na alma,
Lacerado por destoar?
Como convencer ao próximo
Que um amigo de pescadores,
Putas, dos despossuídos de tudo,
Não pode ser invocado por ricos
No Sinédrio contemporâneo
Impondo Gólgotas econômicos,
Crucificando milhões e milhões
Para os dadinhos da expropriação?
Como comemorar a data
Se muitos das trinta moedas
Permanecem de plantão,
Com os seus centuriões
Disseminando a morte e o medo?
Como me juntar aos do fausto,
Aos dos berços de ouro e prata,
Para saldar os das manjedouras?
Como explicar à consciência,
À minha consciência que sangra,
A minha presença no shopping,
Como um quarto Rei Mago
Amealhando, ao invés de dar?
Como sorrir entre estupros
Sexuais e financeiros, senão
Com a hipocrisia nossa de cada dia?
Não, não deixei entrar.
Conheço a história,
Não há como comemorar
O nascimento do cordeiro
Que nasceu para o abate,
Salvo se pecuarista de um rebanho
Tristemente humano.
Nada de festas e sorrisos.
Contrito, culpado e arrependido,
Maldizendo a minha impotência
Para redirecionar o rebanho,
Manter-me-ei em oração
De palavra única: perdão!
Perdoa-nos por comemorar
A Sua morte por antecipação.
Francisco Costa
Rio, 22/12/2016.
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