Aprendi a voar nas canções,
Como os pássaros voam no espaço,
Sem impedimentos e obstáculos,
Livre como um menino nu na praia,
Entre conchinhas e inocência,
Sem saber que o tempo o espreita.
Nas canções viajo incólume e só,
Percorrendo corredeiras de emoções,
Abreviando-me sucessivas sensações,
Como paisagens nas janelas do trem.
Quem voa não sonha, vive o sonho
E seus meandros impossíveis na vida:
A borboleta que cintila,
O caracol a jato, duendes, gnomos,
Fadas, Peter Pans e Sininhos,
A brisa que nos beijou na infância,
Entre brinquedos e coisas sérias,
Como o medo do fantasma da vovó,
Escondido atrás do guarda roupa,
Só esperando o dia anoitecer.
Mas há canções outras, eróticas,
Fazendo do coração região erógena,
Gerando arrepios e sudoreses,
Acelerando batimentos cardíacos,
Impondo sonhos de seres nus,
Encharcados de hormônios e suor.
São sonhos com hálitos e sussurros,
Inesperados gritinhos e olhares
Onde mora o mundo e a noite,
Curto intervalo no meio da vida,
Entre movimentos e cobertores.
E as canções de guerra, protestos
Erigidos ações nos sonhos.
Nesses é que habitam o ódio e a
forra,
Erigindo-nos delinqUência estampada
Em delitos, ajustando contas.
É um trespassado pela espada,
O outro, metralhado, os cárceres
cheios,
Até que o amanhecer nos anistie e redima,
Pousando-nos em ponto seguro.
Aprendi a voar nas canções,
Como os pássaros, a pluma errante,
Os comandantes dos aviões.
Meus poemas são meus diários de
bordo.
Francisco Costa
Rio, 10/01/2017.
*Bituca é o carinhoso apelido de
Milton Nascimento.
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