segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

OUVINDO BITUCA*

Aprendi a voar nas canções,
Como os pássaros voam no espaço,
Sem impedimentos e obstáculos,
Livre como um menino nu na praia,
Entre conchinhas e inocência,
Sem saber que o tempo o espreita.

Nas canções viajo incólume e só,
Percorrendo corredeiras de emoções,
Abreviando-me sucessivas sensações,
Como paisagens nas janelas do trem.

Quem voa não sonha, vive o sonho
E seus meandros impossíveis na vida:
A borboleta que cintila,
O caracol a jato, duendes, gnomos,
Fadas, Peter Pans e Sininhos,
A brisa que nos beijou na infância,
Entre brinquedos e coisas sérias,
Como o medo do fantasma da vovó,
Escondido atrás do guarda roupa,
Só esperando o dia anoitecer.

Mas há canções outras, eróticas,
Fazendo do coração região erógena,
Gerando arrepios e sudoreses,
Acelerando batimentos cardíacos,
Impondo sonhos de seres nus,
Encharcados de hormônios e suor.

São sonhos com hálitos e sussurros,
Inesperados gritinhos e olhares
Onde mora o mundo e a noite,
Curto intervalo no meio da vida,
Entre movimentos e cobertores.

E as canções de guerra, protestos
Erigidos ações nos sonhos.
Nesses é que habitam o ódio e a forra,
Erigindo-nos delinqUência estampada
Em delitos, ajustando contas.
É um trespassado pela espada,
O outro, metralhado, os cárceres cheios,
Até que o amanhecer nos anistie e redima,
Pousando-nos em ponto seguro.

Aprendi a voar nas canções,
Como os pássaros, a pluma errante,
Os comandantes dos aviões.

Meus poemas são meus diários de bordo.

Francisco Costa
Rio, 10/01/2017.

*Bituca é o carinhoso apelido de Milton Nascimento.

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