segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

E RIR, RIR, RIR...

Lúdico para mim mesmo, brincante,
Brinco-me, em pleno carnaval,
Esse festejo por existir nos dias,
Rindo do que em mim sobeja
Ridículo espelho do mundo.

Que de mais surreal que o sorriso,
Apêndice de dores físicas
E crises existenciais,
Como se prazerosas as topadas,
Os tombos, a coceira intermitente
Impondo derrocadas à paciência,
Esse exercício de suicídio na guerra?

Que de mais postiço, antinatural
Senão um eu te amo, em armistício
Entre combates e escaramuças
De artilharia pesada, verbal ou não,
Espalhando estilhaços, seqüelas,
Balas perdidas e sorrisos, depois?

Pode-se, tendo-se visão crítica,
Olvidar o burguês na contabilidade
Das moedas que nunca usará
Porque de vida breve, usando-a
Como se cofre fosse,
Reduzido a juntar, juntar, juntar...
Até que a morte o separe,
Reduzido a patrimônio de esquife
E roupa, frio como sempre foi?

E o que dizer dos apaixonados, dos
Que se crêem nossos proprietários,
Em vã tentativa de posse definitiva,
Orientando gestos e atitudes, reações,
Sem saber que aguardam um adeus?

Como levar a sério o que se oferece
Bandeja de acepipes condimentados
Na ausência da razão impondo a razão?
Como não fazer de si uma gargalhada
Ecoando na seriedade do velório
Que se pretende festa?

Como não brincar,
Cínico e debochado,
Se o cardápio é de veneno confeitado,
Orgasmos em camas de espinhos,
Sorrisos úmidos de lágrimas?

Por isso rio, gargalho, explícito,
Sem avisá-los que o rato
Roeu a roupa do rei de Roma,
Mas deixou intactas as roupas
Do rei daqui, porque rato também.

Como não rir, se cada um de nós
No picadeiro, sem cartola
E sem bengala, sem maquiagem,
Tramita no triste espetáculo
Que se consuma a tragédia que,
Por instinto de sobrevivência,
Vou transformando em comédia?

Se rir não é o melhor remédio
É o único possível nessa farmácia
De anestésicos e barbitúricos
Impondo a alienação e o sono,
A inconsciência que nos permite
Desejar bom dia e depois dormir.

O trânsito dos sensatos
É na contramão.

Francisco Costa

Rio, 19/01/2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário