Ah, os bem intencionados,
Os que me aconselham e zelam,
Vigilantes vigiando-me:
Pare de fumar;
Você precisa dormir mais;
Carne de porco não, olha o colesterol;
Menos açúcar, fique atento, a
diabetes;
Cuidado, ela é casada;
Está levando os documentos?
Leve o guarda chuva, agasalhe-se,
Cuidado com essa língua
E com o que escreve,
Vão te prender de novo,
Esqueça a política e viva,
Calibrou os pneus do seu carro?
Já fez a revisão? Vai devagar,
Faz essa barba, cuide-se;
Vai aonde? O que vai fazer lá?
Fez exame de próstata? Nessa idade...
Porque você é comunista?
Sai do sol, olha o câncer de pele,
Essa cor é bonita mas a tinta é
tóxica,
Evite; já almoçou? Já jantou?
Está se alimentando direito?
Os bem intencionados são os chatos
Os que nos aperreiam e obsediam,
Os inspetores de alunos da infância,
Os policiais das manifestações,
A pulga na cueca, a dor no coração.
Ceder aos chatos é morrer um pouco,
Oferecer o pescoço à forca,
Menstruar na lua de mel.
E há chatos de prontidão sempre,
Em todos os cantos e lugares,
Disciplinando-nos o sexo e as
refeições,
Como na canção, “o que falar,
Com quem andar, onde ir”,
Sempre prontos a interromper e
irritar,
A jogar água fria no tesão alheio.
Sempre que um chato se aproximar
Não titubeie, saque um crucifixo
E mostre-lhe, fazendo o sinal da
cruz.
Não resistem e somem ou calam
Porque sabem que isto é uma ameaça,
Um atentado, um escudo que protege
Do inferno que cultivam.
Francisco Costa
Rio, 20/12/2016.
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