É dor tanta e tão funda
Que maior que tudo,
Mero apêndice da dor,
Infame parasita.
Meus anjos partiram
Em revoada precipitada
Para o nunca mais.
Encolhido, limitado,
Assisto-me passividade
Ornando o não querer,
Essa morna malemolência
De musgo nas pedras,
Sem saber se planta ou pedra.
Reinauguraram o escuro,
As tempestades, o estar só
Entre anjos ausentes,
Caminhando areais e espinhos.
Emancipado do que em mim sorria
Tateio pontas, quinas, asperezas
Com os meus contusos dedos
Sonhando o liso e o macio,
A tepidez das manhãs
Em fulgor de verão.
Nada reluz ou seduz,
Impulsiona vontades,
Acorda o sono
Sem sonhos.
Preciso sair por aí,
Mãos nos bolsos,
Chutando pedrinhas,
Olhando as flores nas cercas,
Pendentes e silenciosas
Mostrando que sem cercas
Do nada não penderiam as flores,
Ausentes como os meus anjos
Tangidos, até que eu me encontre
Em algum poema, lúcido e pleno
Exorcizado, em plena posse
Do meu melhor sorriso,
Conformado com a cerca
Que me permite os anjos.
Francisco Costa
Rio, 22/01/2017.
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