Entre fictícios amores
E revoluções abortadas
Teclo emoções.
Bons tempos aqueles
De redação mecânica
A caneta escorrendo
Sensual e ritmada,
Em coito com o papel.
Tempo de madrigais
E floreiras nas janelas,
De beijas flores baldios
No trânsito das manhãs,
Das moças comprometidas
Com casamento e netos,
Das alvoradas de sabiás
Nos quintais vizinhos.
Bons tempos aqueles,
Das marchas militares
E canções de protesto
Em contraponto nos dias,
Da missa domingueira
E dos beijos no cinema,
Entre tiros na tela,
Sem risco de balas perdidas
E manchetes nos jornais.
Tempo de sputniks
Deflorando o futuro
e boleros no rádio,
dos bailes nas tardes,
“eu sou terrível
É bom parar...”,
E Beatles em Liverpool,
Do primeiro beijo
E o primeiro corpo.
Mas veio o tempo
E asfaltaram tudo,
Edificando prédios muros
Cercando as esquinas
E prendendo as estrelas,
Envelhecendo namoradas,
Semeando rugas e netos,
Saudades, e a nostalgia
Que rumino nas madrugadas,
Alimentando lágrimas,
Matéria prima da poesia.
Não envelheci,
Me tomaram o mundo.
Francisco Costa
Rio, 12/01/2017.
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