Teclo-me
Necessidade de um poema
E ele não vem, arredio,
Comigo sentenciado
À permanência de ser parte,
Só pedaço do que sou
Quando, compenetrado,
No exercício da escrita.
Mais que imperativa ação,
Redigir é atividade vital,
Urgência existencial,
Sem o que não me justifico
Coisa viva, em provimento
Às atividades mais simples.
Agora é o vazio, o vácuo,
A inexistência do ser
Que aguarda o verso
Como o cais aguarda chegadas
E os livros aguardam palavras,
Limitados à espera.
Viajo corpos que foram
E sorrisos que ficaram,
Paisagens de memória,
Suas formas e cores,
Movimentos e odores,
A mais lânguida canção
Gravada no coração
E nada flui ou congemina
Poema ou oração.
Agora estou órfão de mim
Porque sou o que escrevo,
Irreconhecível fora do léxico
E inexistente fora dos versos.
Minha unidade rompida,
Em agonia de morte clama:
Inspiração, inspiração.
Inspiração...
Francisco Costa
Rio, 15/01/2017.
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