O poeta é um estrábico,
Olhando pros lados
Enquanto todos olham pra frente.
Por isso não cobre coerência,
Não imponha o politicamente correto,
Não exija parcimônia e comedimento.
Poetas são as vestais do escândalo,
Os sacerdotes do silêncio,
Os operários das palavras,
Assentado-as, como tijolos,
Na consecução da parede poema.
Nunca peça a um poeta
Quero um poema assim ou assim
Porque o poeta é o leitor de si
mesmo,
Discorrendo por escrito o que leu.
Ordenar disciplina nos poetas
É como ordenar o trânsito dos
pássaros,
Missão impossível e descabida, porque
Como os versos que esculpem,
aleatórios,
Surpreendendo sempre.
A missão do poeta é o poema,
Tudo o mais é matéria prima,
Ingredientes, objetos próprios ao
furto
Que se esconderá numa estrofe,
Numa rima, em alguma figura de
estilo.
Não, poetas não são seres encantados,
Nada têm de diferenciados.
Como qualquer proletário,
Apenas trabalham, produzindo magia,
Como os ilusionistas nos circos,
Tirando coelhos e bengalas das
cartolas:
O que surpreende não é o artista
Mas o instante de poesia.
Nunca tente entender um poeta,
Ele é só parte no cardume,
E você não pode entender o oceano
A partir de um peixe que viu.
Poetas são discrepâncias,
incontinências
De soluções novas para velhos
problemas,
Flores miúdas e ordinárias,
solitárias,
Nas beiras dos caminhos onde todos,
Distraídos e atarefados, passam,
Até que ela jorre perfume e cor
Fixados em palavras, como um psiu,
Obrigando a que todos parem,
Sentindo-se flores também.
Poetas são intervalos
Entre o cotidiano e o cotidiano,
Os terroristas da monotonia
Demolindo tudo com poesia.
Francisco Costa
Rio, 30/01/2017.
Perfeito!
ResponderExcluirDepois que vc partiu,minha vida se resume em café ,cigarros,lágrimas,lembrança e uma eterna saudade☆te amo para sempre meu doce poeta 😢💔
ResponderExcluir