Quero-me nos poemas
Como se querem nas flores
O aroma e as borboletas.
Mais que palavras concatenadas,
Os poemas devem ser cárceres,
Invólucros, embalagens
Onde se encarne o meu espírito
E se anuncie o meu coração.
Que eles levem o meu espanto,
As minhas manias e vícios,
E tragam os recônditos segredos
Que só os poemas sabem,
As lembranças de todas as musas
Que fizeram estadia no meu encanto.
Nascidos dos subterrâneos de mim,
Ora em doloridos partos de sangue,
Ora prospectados em desejo e beijos,
Que suem cio e soem sexo, maduros
Como douradas frutas no outono,
Embora capazes da oração mais íntima,
Em comunhão de delírios e esperanças,
Circunscritos à introspecção da fé.
Mais que palavras concatenadas
Figuras de estilo e normas
gramaticais,
Cada poema é um pedaço que se solta
E se emancipa das almas dos poetas,
Para reencarnar poema outro
No peito do leitor.
Por isso quero-me nos poemas
Como se querem nas flores
O aroma e as borboletas.
Francisco Costa
Rio, 20/12/2016.
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