(Filosofando no feriado)
Amanhã o caminhão da limpeza urbana
passará.
Livra-te dos entulhos do ano passado,
De tudo o que em ti sobrou.
Comece jogando fora a impaciência,
esse vício
Que transubstancia em minutos os
segundos,
Em dias as horas, plantando mal
humor.
Confia nos relógios e calendários,
Eles não mentem.
Joga fora também a inveja, coisa de
todos nós,
Ainda que inconsciente, clandestina,
escondida,
Mal disfarçada... Pensa que ninguém é
igual
E há em ti também matéria para a inveja
de alguém.
Inveja é seqüela de lesão na auto-estima.
Livra-te dos complexos, o de
superioridade,
Que te faz crer, gato doméstico, um
leão,
E o da inferioridade, subtraindo-te,
por opção,
De um rebanho de reses juntas e tão
iguais.
O complexo é uma fantasia fora do
carnaval.
Lança fora a indiferença, a
auto-suficiência,
Essa falsa crença de que te podes
sozinho,
Como se fruto de geração espontânea,
Autodidata, todo poderoso que a si se
basta,
Confundindo cópula com masturbação.
Ainda há espaço no saco plástico que
se vai.
Coloca nele o pessimismo e o desânimo,
A falta de combustível em motor
perfeito,
Pronto para pronto funcionamento.
Abastece-te e caminha, a estrada é
longa,
De aclives e declives, curvas
acentuadas,
Mas te levará a algum lugar, seguro
ou não,
Porém melhor que ficar na beira da
estrada,
Vendo as pessoas, o tempo, a vida
passarem.
O desanimado e o pessimista vegetam
na sombra,
São os nocauteados antes da luta
começar.
Manda embora a alienação, esse não
estar,
Como a planta ornamental perdida no
matagal.
Chuta a preguiça. De ler, escrever...
Pensar,
Porque és o que sabes, o que em ti
habita,
Patrimônio seguro, imune à prisão, à
tortura
E à morte. O não saber é cruel e
incomoda,
Porque o que ignora cultua a
ignorância,
Como um cego acreditando-se capaz de
enxergar.
O mundo tem o tamanho do que dele
sabemos,
Viver num mundo miúdo e restrito, sem
graça,
Ou ser parte consciente do universo é
opção tua.
Por fim, livra-te do individualismo,
do egoísmo
Que te faz pequena ilha afastada do
continente,
Sem istmos e pontes a permitirem o
trânsito.
O egoísmo é a metástase da
fragilidade escondida,
Da covardia enrustida, do medo
permanente,
Da insegurança mascarada, da derrota
antecipada.
Agora deixe que o gari leve tudo e
lance no lixão,
Mas não se esqueça da gorjeta e do
cumprimento.
Tu és um gari sem macacão, como és o
médico,
O político, o professor... Atividades
temporárias
Que nos fazem dependentes, só
pequenas peças
Num jogo onde a regra é servir.
Eu não falei para jogares fora a
solidariedade.
Como eu poderia falar para jogares
fora
Um pedaço de ti?
Justo onde mora a tua humanidade?
Ser humano não é fácil, fácil é desistir.
Francisco Costa
Rio, 01/01/2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário