terça-feira, 29 de abril de 2014

Recheados do inusitado,
Meus sonhos desafiam
Que eu os faça reais
A cada amanhecer.

Meus sonhos habitam plagas
Com sons de cachoeiras
Em contrapontos com pássaros,
Em liturgia de concertos imaginários.

É lá que se deitam na relva
As moças nuas e as crianças,
Logo que some a tênue película
De orvalho, lençol da noite.

Das flores não falo porque impossível,
Tamanha a exuberância de formas,
A mistura de cores, os odores
Ilustrando dias de sempre sol.

Público, compartilho quase tudo:
Meus versos expostos a autópsias,
Retalhados em seus fonemas e pontos,
Minhas telas, esboços mal delineados
Do que me vai na alma meio aflita,
Minha voz prenhe de exigências,
E até o meu corpo, ocasionalmente,
Fonte e fruto de prazeres rápidos
Porque nascido para ser sempre só.

Meus limites estão nos meus sonhos.
Por mais que eu fale, redija, pinte...
Eles se recusam à revelação, pessoais,
Imunes ao que me imponho e tento:
Trazê-los à realidade e impô-los,
Até que a matem afogada
Em aromas, cores, formas outras
Que não as que se anunciam cotidianas,
De sons urbanos e corpos cansados,
Removendo em definitivo
O rótulo de insônia ou pesadelo.


Francisco Costa

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