quinta-feira, 3 de abril de 2014

PRESTAÇÃO DE CONTAS

(em resposta aos cobradores)

Sei que gostas mais
Quando me revelo romântico,
Partícipe da natureza,
Da sua linguagem, ora muda,
Anunciada em formas e cores,
Ora sonora, em pios, urros,
Zumbidos em sinfonia exata.

Também me gostas paixão,
Delineador de sentimentos
Que só se revelam aos poucos,
Em momentos propícios,
Disfarçados no resto do tempo.

E como te agrado indiscreto,
Revelado em versos eróticos
Umedecendo as moças,
Enrijecendo os rapazes,
Corando os puritanos do prazer.

Confesso até que, às vezes,
Pornográfico, sacana, comum
Como cada um que se esconde
Em pretensa seriedade vestida
De orações, conselhos, álibis.

Mas ultimamente esses que sou
Andam adormecidos, distantes,
Impróprios ao teclado e à caneta.

É que não sei sorrir sozinho,
Falar só ou gozar na solidão.
Nasci para a partilha, a divisão,
E o tempo se anuncia instável,
Sujeito a temporais de silêncio
E chuvas de carências e medos.

Os que supúnhamos mortos,
Nas sepulturas do não retorno,
Estão querendo voltar,
Para impor versos outros,
Que não sejam românticos,
Apaixonados, maliciosos,
E tampouco tenham tesão.

Se mudei foi só aparência.
Minha escrita é coerência,
Os mesmos versos antigos
Em exercício de resistência.

Francisco Costa

Rio, 29/03/2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário