Os que
penetram em mim
pelas portas
dos meus versos,
pelas formas
e cores dos meus quadros,
imaginam que
de todos os meus sentimentos
fulgura em
destaque e com pompa o amor.
Cruel
engano. Amo de amor desmedido
a minha
pátria vilipendiada, vendida, explorada
como uma
prostituta de corpo exposto nas ruas.
Amo, de amor
tão grande ou maior, a minha gente,
toda a gente
que se espalha, anônima ou pública,
na arena das
sensações e necessidades, na vida.
Gente rica,
infeliz porque prisioneira de objetos,
impedida de
movimentos pelos grilhões da fortuna,
contando o
tempo como moedas, monetariamente,
até ser
enterrado num cofre de madeira,
sem ter
aprendido, ou pelo menos desconfiado
que o amor é
gratuito e avesso aos códigos do comércio.
Gente pobre
debulhando necessidades e angústias,
garimpando
safras nulas, colhendo carências,
como um
caramujo que nunca teve concha e procura.
Gente
miserável, que não debulha nem garimpa
porque sabe,
desde o berço, a inutilidade de existir,
como planta
intrusa num deserto só de areia, seca,
anônima,
imprópria ao florescimento, palha verde.
Amo as
florestas em holocausto às motosserras,
correntes,
machados, tratores mastigando a flora,
fazendo
ausência a fauna errante em busca da morte.
De paixão
infinita amo tudo o que se esconde aos olhos
e se anuncia
desconfiança, necessidade de saber,
o que se
esconde em rótulos: ciência, arte, filosofia...
Toda a
matéria prima com que edifico a minha poesia.
Esse o meu
amor, limitado, parcial, em pedaços, retalhos
porque de
realização castrada, amputada, interdita...
Como sol
parco e miúdo intercalando temporais.
Os que
penetram em mim
pelas portas
dos meus versos,
pelas formas
e cores dos meus quadros,
imaginam que
de todos os meus sentimentos,
fulgura com
pompa e destaque o amor.
Cruel engano.
Entre o amor e a comunhão,
reina,
absoluta e determinante, a indignação.
Francisco
Costa
Rio,
15/04/2013.
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