sábado, 19 de novembro de 2016

SONHO POSSÍVEL

Sonhei…
Mas não um desses sonhos frugais,
Triviais, apoiados na fantasia.

Para explicá-lo nem Freud ou Lacan,
Qualquer sábio da psicanálise
Ou eruditos da religiosidade.

Foi um sonho absolutamente real,
Apoiado no possível, alicerçado
Sobre a sólida rocha da justiça, e
Edificado no império da lei.

Por momento que não sei quanto,
Se breve ou longo, mas definitivo,
Perdi-me entre homens felizes,
Partilhando o sorriso e o espaço,
Bem vestidos e apascentados,
Muitos de mãos dadas, em abraços,
Como se todos de família única,
Reunidos em data festiva.

Não havia refugiados, retirantes,
Homens armados, anões ou gigantes,
Fronteiras, condados ou países,
Com todos dimensionados humanos,
Em mesmo e igual teor de humanidade
Permitindo a plena realização, o dom
De não ser só apenas um na multidão.

Havia luz, uma dourada e cálida luz,
Fazendo-se oceano onde navegávamos,
Inebriados na estranha atmosfera,
Respirando paz na brisa morna
De fim de verão.

Não havia inveja porque todos iguais
E o egoísmo, sentimento desconhecido,
Só se manifestava na escolha do amor,
Mas do amor de outro teor, o carnal,
Com namorados dançando na chuva,
Em doce e delicada sensualidade.

Havia borboletas, muitas borboletas,
Porque exuberava a flora luxuriante,
De multicores formas e odores
Abrigando o que mais vivesse.

Não sei se havia governos, exércitos,
Resquícios de tempos antigos, idos,
Só especulado nas escolas matinais,
Onde não sobravam crianças.

Reduzidas as doenças físicas,
Abolidas as mentais, nos hospitais
Cumpria-se o ritual do amor ao próximo,
Entre pomadas e dedicação integral,
Reduzidos a colônias de regeneração,
De onde se saía compulsoriamente
Na posse da saúde e da gratidão.

E acordei. Acordei com o sentimento
De que havia ultrapassado um muro,
Abandonado o quintal onde habito
Para invadir o que será um dia,
Quando o homem estiver no futuro,
Sem as âncoras do passado
Mantendo-o no presente.

O homem é viável
E só não tem asas
Porque não quer voar.

Francisco Costa
Rio, 14/11/2016.



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