sábado, 19 de novembro de 2016

Quietinha e calada,
A primavera se derrama
Colorindo tudo lá fora,
Acordando o verde
Que dormia distraído,
Chamando as cores
Para dançar. 

Mas pouco apraz
A primavera só lá fora.
É preciso que ela entre
E inunde cá dentro,
E dentro de cada homem,
Permitindo novos partos,
O de novas cores e formas,
Fazendo florir abundante
O que dormitava no inverno.

A primavera mora nos homens,
Embora migre em todos os anos,
Escondendo-se no verão,
Oportunidade de corpos nus;
No outono, frutificação de idéias;
No inverno de neve distante,
Longe dos trópicos e de mim,
Permanente primavera
Fluindo flores e letras
Entre borboletas e olhares.

A primavera é uma estação
Sem trens e sem passageiros,
De trânsito ausente, interrompido,
Aguardando que cheguemos
Na plenitude do encanto,
Encantados e distraídos.

A primavera se anuncia lá fora
Mas mora aqui dentro,
Como visita não anunciada
Ou uma nova namorada,
Súbita, inesperada.

A primavera é um convite
De amena luta não declarada,
Um arregimentar de forças,
Uma tocaia perfumada.

E é nesta primavera triste,
Com a nossa alegria subtraída
Que inauguraremos a resistência,
Fazendo do que supunham morto
Uma declaração de vida.

Francisco Costa

Rio, 24/09/2016.

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