sábado, 19 de novembro de 2016

AOS SURDOS

Rebelde,
Avesso ao comedimento
E à parcimônia, aos limites,
Enfrento-me contenção
No que não se quer quieto.

Impossível é palavra gasta,
Ultrapassada, démodé,
Receituário de desânimo
No vernáculo dos acomodados.

Trago em mim a impertinência,
A incontinência da insatisfação,
Como farol sempre aceso,
Permitindo-me descobertas
Inatingíveis aos que se bastam
Nas próprias intuições e credos,
No pouco que somos
E no nada que sabemos.

Há um mundo melhor logo ali,
Reclamando chegadas,
Estadias de não ter fim,
Onde são sempre floridos os dias
E consteladas as noites.

Há os que não crêem e,
Mórbidos e conservadores,
Trabalham a volta do passado,
Sonhando adolescências tardias
Em corpo que navega na velhice.

A juventude não é uma calça
Velha e desbotada,
Menos uma música antiga
Ou a lembrança de um sorriso.

A juventude é pra sempre
Porque não exige um corpo,
Habita no inconformismo,
Na esperança, no que há de vir,
Transformando todos os dias
Em floridos dias,
E todas as noites
Em consteladas noites.

A utopia é um substantivo
Criado pelos fracos
Para justificar a si mesmos
Acomodados,
Derrotados,
Clamando por um útero,
Sem saber que já nasceram.

Sem rebeldia
A vida é só um sono
Com sonhos absurdos.

Pois que se cumpra
O inusitado,
A surpresa.
O novo,
Apesar dos surdos.

Francisco Costa
Rio, 08/07/2016.




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