Entre impropérios calados,
Gemidos e punhos cerrados.
Eu não me antevi assim,
Parcimônia posta nos gestos,
Reduzido à luta verbal
Quando o corpo exige mais.
O inimigo não é poderoso,
Mas me sinto só
E só sou pouco
Para arregimentar canhões
E arrombar portas e janelas,
Pisotear jardins de palácios,
Impor a presença do sol.
Meus camaradas acomodaram-se,
Talvez envelheceram entre netos,
Mal dispostos ao risco do recomeço,
Quando os tanques nos ameaçavam
E sorridentes caminhávamos juntos,
Sorridentes, de mãos dadas, cantando:
“somos todos iguais, braços dados,
Vem, quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer.”
As canções não envelhecem,
Nem a história ou o tempo,
Só a vontade, para desespero
Dos poetas, meninos velhos,
De corpos cansados,
Mas ainda dispostos
A mais um verso
Escrito nas ruas.
Francisco Costa
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