Cadê as meninas que adolesceram
comigo,
Entre floreiras com margaridas e
sonhos
Nutridos no sempre adiado, agora não,
Quem sabe um dia... Com os dias
passando
E o passado crescendo, até tomar
tudo?
Que fizeram com as meninas de ontem,
Lindas, nos escaninhos da minha
memória,
Desafiando-me a lembrá-las todas
Nesta nostálgica manhã de sol e
saudades?
Quantas ascenderam à felicidade,
Dominantes e realizadas,
Debulhando rosários de sorrisos?
Quantas se abstiveram, envergonhadas,
Transferindo a existência para a
imaginação,
Curiosas e aflitas, nutrindo-se no
cardápio,
Sem saber de refeições reais e
realizáveis?
Quantas envelhecem, senhoras,
Entre parcimônia e netos,
Cuidando para que tudo ficasse como
sempre,
Em burocrática monotonia,
Bibelôs nas prateleiras dos móveis,
imóveis
E passivas, nas mesmas posições da
véspera?
Quantas ousaram, e ousando se
libertaram
Dos preconceitos que cultivávamos,
Lavradores da moral imposta e exigida
Pelos das gerações anteriores,
Atentos ao nosso erotismo escondido,
Assumindo-nos com parcimônia e
cuidados?
Quantas são hoje saudades dos filhos
Diante de fotos e objetos cultuados
Porque foram da mamãe ou da vovó,
Santas mulheres que os deixaram
Em orfandade explícita e compulsória?
Quantas não suportaram o próprio peso
E se escoraram em teologias e
exegeses,
Repetindo mecanicamente os textos
Que as antecederam e nos sustentaram
Parcialmente castrados, querendo
vida?
Quantas tornaram- se vovozinhas
peraltas
Digitando impropérios na Internet,
Alternando humor e raiva nas redes
sociais,
Contemporâneas dos netos em
atividade?
Quantas recheiam passeatas e atos,
Com a mesma indignação de sempre,
Impondo-se coluna de sustentação
Entre passivos tijolos?
Pois hoje ressurgiram diante de mim,
Ainda protótipos do que seriam,
Quando alvos dos meus desejos,
Perdido entre floradas de versos
E revoada de pássaros idéias.
Terno e agradecido, meio choroso,
Coloquei Elvis para tocar e,
Em ligeiras curvaturas do tronco
E só insinuados sorrisos,
Tímido e desajeitado,
Uma a uma as convidei para dançar:
“Love
me tender
Love
me sweet
Never
let me go
You
have made my life complete…”*
Francisco
Costa
Rio,
08/11/20116.
*”Ama-me com ternura/Ama-me doce/Nunca
me deixe ir/Você fez minha vida completa...”
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