Insone,
De sentidos atentos
No silêncio do mundo.
Em erupção de idéias,
Recordações, desejos,
Rumino o que não sou,
Em ânsia de ser todos.
Sou agora o menino
Que dorme na praça,
Sobre placas de papelão,
O de bem subtraído
E o que subtraiu,
Apartados por uma arma;
O pai que chega cansado
E contabiliza a ausência de pão,
A moça maquiada, na calçada,
Coxas e pudor de fora,
No balcão de sexuais negócios.
Sou o que se erige mais que um,
O que não se pode em si
Sozinho, conjugando mágoas,
E por isso a ausência de sono,
Para que por mais tempo pense
E me remoa só pedaço do mundo,
Limitado e tosco, pequenino,
Ansiando-me mais, ser só todos,
Porque cada um cópia do outro,
Agora dormindo, alheio e só,
Na dimensão do não existir.
Logo, traídos pela claridade
Se assumirão acordados de novo,
Nas linhas de produção e shoppings,
No afã de orar e esperar, quietos,
Sem saberem que ainda dormem,
Porque cada um, um só e sozinho,
Medindo-se em cifras e sorrisos.
A insônia é o estágio último
Dos que se recusam inconscientes,
Para mais sofrer, e a noite é o casulo
Onde se escondem os sensíveis,
Mentirosos que durante o dia
Fingem-se corajosos.
A insônia é o recarregar de bateria,
Para que logo que o sol chegue
Haja energia para inundar tudo
De consciência, incentivo e poesia.
Poetas não dormem
Porque se dormem
Morrem.
Francisco Costa
Rio, 27/09/2016.
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