Eis que de repente tudo sangra,
Enerva-se vermelha a realidade,
Sangradouro de doces vontades
Escorrendo nos dias presentes.
Sangra o olhar do menino distraído,
Entre o programa social subtraído
E a incerteza se tudo isso passará,
Como passageiro temporal de verão.
Sangra a moça triste na janela,
O velhinho no pijama de flanela,
O amante que em si não cabe
Porque cresceu, apaixonado.
Sangra seiva a árvore posta
Entre o pássaro e o espaço,
Faz-se murcha a florada,
Dispersando besouros e borboletas.
Sangra o oceano e cada rio choroso,
Caminhando, sinuoso, entre pedras
Que choram o choro mudo
Do que sofre inerte, mineral.
Sangra o sol entre nuvens
E as nuvens no arrebol,
Pingando sangue nas cumeeiras,
Espantando as canções chorosas
Das mulheres lavadeiras.
Tudo sangra, sangramos todos,
Feridos de morte, em estertor,
Na espera de que tudo passe
E se faça sorriso o que hoje é dor.
Estocado em sua essência,
Na vocação de ser alegre,
Humilhado e recolhido,
O meu país sangra,
E chora.
Francisco Costa
Rio, 30/07/2016.
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