sábado, 19 de novembro de 2016

RECESSO IMPOSTO

Chora a Pátria de luto,
Choramos todos, de luto.

Há uma névoa encardida,
Suja, contaminando tudo
Com o seu miasma fétido,
Tecido em maldições.

Surpreende-se a fauna distraída
Diante da dor que tudo seca,
Espalhando tentáculos como ventosas,
Sugando a seiva que em nós havia.

Faz tristeza em meu país.
Os meninos brincam assustados,
As moças recolhem sorrisos e sexo,
Como se na antevisão da secura
Que chega e se impõe, macabra,
Reinaugurando tristes dias antigos.

Monótono e alheio, o mar segue
Salina poça de lágrimas, alegoria
Do que em nós purga e desencanta.

Há um golpe em curso, em trânsito,
Prometendo o exílio da alegria,
O que de bom em nós havia,
A morte da poesia.

Pois que façam, a liquidação,
Dispam-nos das roupas e dos dentes,
Deixando-nos nus, sem nada,
Para que renovemos o estoque.

O estoque de idéias novas,
O estoque de coisas novas,
O estoque que os atravessará
Cadáveres que nos assustaram um dia.

Francisco Costa

Rio, 29/08/2016. 

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