(Pra Sonia Costa, in memoriam)
Como qualquer mortal,
Carregavas muitos defeitos,
Manias, impaciências...
O que te impossibilita o paraíso.
Mas virtudes havia muitas,
Mais do que as que mereci
A mim serem dadas,
A troco de tão pouco,
Então o inferno não é teu lugar.
Assim, perdido em filosofias,
Credos, desconfianças e medos,
Busco-te entre estrelas, distraída,
Envolvida em atividades outras
Que não consigo imaginar,
Dando provimento à existência.
Nossos filhos estão bem,
Empresariando o que começamos,
Tijolo a tijolo, desdobrando-nos
Entre refeições de arroz com ovo,
A carne transformada em cimento,
Lembras? Quanto sacrifício!
Plantamos e agora colho só,
Isto não é justo nem natural.
Continuo rebelde e inconformado
E tivesses aqui sentada na sala,
Continuariam os teus sobressaltos,
Temerosa e preocupada,
Em conselhos de larga disso,
Escondendo o orgulho mal disfarçado
Por eu persistir, não largar.
Hoje, entre canções e plantas,
Como sempre, em moto contínuo,
Acordei pensando em ti, em nós,
Mais angustiado que saudoso,
Miúdo e limitado, pela metade.
Ainda pensas em mim?
Pois estás em cada verso meu,
Em cada pincelada, nos contos,
Em cada flor que faço florescer
Em nosso Jardim.
Custa-me muito a resignação
De me saber não mais amante,
Mas simples irmão, sem corpo,
Sem certezas, só imaginação,
Reduzido a ser todo e só coração.
Francisco Costa
Rio, 04/08/2016.
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