Subterrâneas
vozes insistem,
Soturnas e
impiedosas,
Me induzindo
à discordância,
À
dissidência, ao dizer não
Ao que se
faz compulsório
Pão nosso de
cada dia.
De hábitos
diurnos, abomino
O escuro que
esconde as cores
E deforma as
formas,
Criando
ilusões, sonhos mortos,
Irrealizações
satisfeitas,
Mentiras que
convencem.
Eu nasci
para discordar,
Para não
lamentar a força do rio,
Mas as
margens que o oprimem,
E ver na
rebeldia ato criador,
Na
acomodação, capitulação,
Rendição sem
luta, ignóbil fuga.
Existo para
transpor montanhas,
Escalando-as
uma a uma,
Mastigando
cada pedra,
Sem me
servir de túneis e atalhos.
Não me basto
nas sonatas do tédio,
Nas modinhas
momentâneas
E danças
contemporâneas,
No frenesi
em sagração ao nada.
Nasci para
as sinfonias, para rasgos
De
eloquência corrompendo
O que se
pretendia silêncio e paz,
A paz dos
resignados.
Agastam-me
os homens práticos,
Com solução
para tudo
E respostas
prontas, prisioneiros
Do pouco que
sabem e cultuam,
Acreditando-se
com a posse de tudo,
Sem perguntas
e dúvidas,
Sonolentos,
nas sombras
Do que lhes
falta, sem saberem do sol.
Descuido da
disciplina,
Desatenção
da ordem,
Existo para
grafitar impropérios
Nas caiadas
paredes
Dos bem
comportados,
Para mijar
nos lagos
Das douradas
carpas da acomodação.
Sem rebeldia
não há poesia,
Esse grito
em mundo paralelo
Porque não
cabe cá, ecoando aqui.
Nela me
justifico,
E para ela
foi que nasci.
Francisco
Costa
Rio,
02/12/2014.
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