(Recordações
da infância)
Molequinho
ainda, em tenra idade,
Mais cueiros
que cuecas,
Descobri
atividade prazerosa,
Subir no
muro,
Com os pés
numa pedra,
E olhar para
a casa do vizinho.
Explico: ele
construiu um laguinho
E semeou
multicoloridos marrecos.
Passei horas
da infância, muitas, lá,
Deliciado no
encanto dos sete anos.
Logo eu os
conhecia a todos
E até os
nomeei, roubando pão,
Biscoitos na
despensa,
Arroz nas
panelas, para os amiguinhos,
Mais
comprometendo a miséria familiar.
Logo
aprenderam que nas minhas mãos
Residia a
providência e a previdência,
E eu passei
a atirar pedras na água,
Para que
mergulhassem, iludidos,
Pensando que
era comida.
Um dia,
distraído, em plena displicência,
Errei o lago
e acertei o bico de um filhote,
Aleijando-o,
e o que era exercício de prazer
Passou a
atividade da dor: em todos os dias,
Masoquisticamente,
eu subia no muro,
Não mais
para ver marrequinhos nadando,
Mas para
olhar para um só, e chorar,
Diariamente,
por agônicos meses.
Passaram-se
os anos, décadas e,
Não sei se
ele morreu de velho ou de panela,
Se chegou a
se reproduzir, a ser feliz,
E só o que
me consola é a minha dor, maior:
Aquela pedra
que o mutilou por poucos anos,
Talvez só
por alguns meses,
Dói em mim
ainda hoje, meio século depois,
Mantendo-me
ainda meio mutilado,
Reduzindo-me
a só um marreco triste
Com o bico
quebrado.
Francisco
Costa
Rio,
02/12/2014.
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