sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

LÁ VEM O NATAL, SENHOR

Aqui, assim, prostrado, em reverência,
Em admiração e respeito, indagações,
Reflito da nossa indigência mental,
Incapaz de sequer desconfiar
Do que ficou explícito em tuas palavras,
No teu sangue derramado, nas ações,
Usando-te como espelho nosso
Refletindo nossos acanhados limites.

De um ouço porque não mataste
O que recusou socorro,
Querendo-te pior que o omisso,
Ou que castigue os nossos desafetos,
Sem questionar porque desafetos nossos,
Estampando propaganda “Deus é fiel”,
Fazendo-te cúmplice de todas as ignomínias,
Disparates, covardias cometidas por nós.

Há ainda os que cobram por existirmos,
E em teu nome! Com tabela de preços
Para milagres, graças, bem aventuranças,
Nascidas de fenômenos naturais
Ou da fraude, da mercantilização da fé,
Quase nos convencendo que os pães
Multiplicados foi empreendedorismo,
Esforço para a criação de fortuna
A partir de uma rede de padarias.

Em teu nome fazemos guerras
E perseguimos o que te entende diferente,
Mais realistas que o rei,
Mais divinos que a divindade,
Cada um certo de ter sido teu confidente,
De saber quem foste, o que querias,
Pretendeste... Quais os teus propósitos,
Intenções... Com tantas interpretações
Quantos são os que interpretam.

Vem aí o natal, Senhor. Nos reuniremos,
Mas não na busca de um mundo melhor,
Não para tratar de proteger os fracos
E saciar os desvalidos, mas para comprar,
Para cultuar o cesariano deus dinheiro,
Justamente a negação da paz, do amor
Exilado das filas de promoções,
Das liquidações que nos liquidam
E nos fazem Herodes e Pilatos
De nós mesmos.

Feliz natal, meu Senhor.

Francisco Costa.

Rio, 01/12/2014.

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