domingo, 13 de outubro de 2013

PELO MENOS HOJE

Pelo menos hoje lembremo-nos das crianças.
Não só daquelas que abençoamos,
Porque próximas e protegidas, amadas.

Lembremo-nos das crianças sem infância
Em labor adulto nas minas de carvão,
No corte da cana, nos mercados do sexo.

Lembremo-nos das que correm distraídas
Entre tanques e mísseis, até a explosão
Que as definirá matéria de memória.

Lembremo-nos das que amargam sede
Porque a água é do gado do coronel,
E das que contam estrelas e pedrinhas
Para ocupar a hora do jantar.

Lembremo-nos das que derretem
Em suores e diarréias, minguam,
Reduzindo-se a só dois olhos e ossos.

Lembremo-nos das que, precoces
Traficam e roubam, estupram,
Divididas entre brincadeiras e verdade.

Lembremo-nos das canceradas, da mutiladas,
Das que minguam e mofam em hospitais,

E se mais espaço para lembranças couber,
Lembremo-nos de nós próprios, silenciosos,
Como se essas crianças não existissem.


Francisco Costa

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