domingo, 6 de outubro de 2013

EU, BILHENAR

Hoje, no meu aniversário,
Ex data de festas,
Hoje, de consolo,
Questionam-me a idade.

Não direi, não insista,
Só darei uma pista:
Comecei a nascer numa estrela,
Entre átomos enlouquecidos,
Em frenética dança de calor e luz.

Poeira cósmica em gênese
De coisa nova e diferente,
Agreguei-me macropartícula
Em momento rotacional.

Assisti chuvas ferventes,
Lama em ebulição,
Furacões indomados,
Relâmpagos devastadores.

Assim, em fúria de elementos,
Descobri-me capaz de cópias,
O que me exigiu absorver o meio,
E acordei vivo, emancipado
Do que é só pedra e silêncio.

Ainda primário e simples,
Tateei escuro e ouvi o nada,
Ansiando-me coisa maior no mundo.

Logo agreguei-me diferente
E diferenciado, com órgãos
Me contaminando de curiosidade,
E me afastei da restrição da água,
Descobri um oceano de gás,
E parti, propenso à conquista.

Questionamentos rastejando,
Farejei oportunidades, ocasiões,
Forçando-me ao avante,
E me vi com membros, andando.

Não me bastou olhar só o chão
E me fiz ereto, olhar no horizonte
E fronte nas estrelas, minha origem.

De mãos livres, percebi-me capaz
De reconstruir tudo, incorporando-me
Em tudo, à minha imagem e semelhança.

E me despi da capa do que ignora
E fui Átila e Jesus, Gandhi e Judas,
Nabucodonosor e um índio Xavante,
Moisés e Hitler, ditador e vítima,
E conheci Kardeck, Darwin e Marx,
Bebendo da essência humana
Em seu grau máximo na evolução,
Na participação.

Habitei corpos famintos e cortes reais,
Naveguei caravelas e montei camelos,
Percorri o baixo meretrício e igrejas,
Dancei em bodas e chorei velórios,
Matei muito, morri também,
Entre punhais, espadas e tiros,
Até chegar aqui.

Agora, indeciso do próximo passo,
Redijo apreensão e sustos, esperas,
Diante do que está próximo.

Grande o bastante para não me conter em mim,
Nasci com bilhões de anos acumulados,
Ancião que já nasceu velho para morrer menino,
Diante desse papel, fazendo das palavras
Desejo de matar o poeta,
Esse arremedo de esteta,
Para renascer novo um dia,
Transformado na própria poesia.

Francisco Costa

Rio, 02/10/2013.

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