terça-feira, 18 de março de 2014

Rasgo-me inteiro de amor
E de amor fervo-me constante,
Em delírios e acesso febris,
Assistindo-me só aquecimento.

O amor me habita em todas as formas
E me aquece em todas as modalidades,
Caminhando corpos e olhares, intenções,
Sempre pronto à doação e à posse, ao querer.

Amo longe o que se quer miragem e imaginação,
O próximo, tangível e ao alcance, solicitude
De cumplicidade e caminhar juntos, mãos dadas,
Esculpindo possibilidades novas e novos sorrisos.

Amo a moça na janela, espera disfarçada,
E a moça na praia, ostentação escancarada;
A que, pudica, mal me olha, e a que se dá,
Como as flores se dão ao sol, e o sal, ao mar.

Amo o menino de mãos vazias e olhar baldio,
Como um pequenino cão farejando refeição,
E o menino armado, por pouco e mal amado,
Mordendo pratos e carícias, o que lhe foi negado.

Amo o que mal fala porque não tem tempo,
No afã de tecer os fios das fortunas alheias,
E os que medem fortunas em gotas de suor
Garimpado nas têmporas do próximo,
Contabilizando amanheceres e solstícios
Como se propriedades privadas, de dono e senhor.

Amo as águas claras, cristalinas e frescas,
E a que se faz esgoto diluindo o resto dos homens;
A que se junta em poças e lagos, riachos, oceanos,
E a que cai providencial e necessária, hidratando.

Amar. Este o meu destino e meu desígnio,
E para isso me edifiquei necessidades,
Falta de complementos, parcialidade,
Só um pedaço me completando no outro.

Posso me doar, para me completar lá
Ou subtrair, para me completar aqui.

E este é o dilema humano, o senhor
E pai de todas as guerras e contendas:
A dúvida entre o amor e o desamor.

Entre o amor e o desamor moram as lágrimas,
Reside o sangue, habita a saudade,
Num condomínio chamado despudor.

Francisco Costa

Rio, 26/02/2014.

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