sexta-feira, 28 de março de 2014

BUNDAL APOLOGIA

Sim, as bundas,
As rotundas partes,
Furibundas em riste,
Exigindo distância
E respeito.

Sim, as bundas,
Protuberâncias
Em carne e curvas
Que se projetam
Em imaginações.

As desejadas bundas,
De formas várias
Espantando o tédio
E atraindo o olhar.

As bundinhas, discretas,
Pouco mais que insinuadas,
Comedidas e tranquilinhas,
Como quem não quer nada.

Os bundões exagerados,
Cúpula de prazeres desbragados,
Enormes, convites a mal comportados.

As maciinhas, sensíveis e choronas,
Sempre assustadas, e as encorpadas,
Rijas em desafio, desaforadas,
Afeitas a beliscos e mordidas.

Bundas... Ah! As bundas,
Esses musculares relevos
Nos mapas da fascinação,
Esse desejar de sim
Que quase sempre é não.

Ainda que belas não fossem,
Restaria a sonoridade,
No dizer de Drummond de Andrade
A mais bela palavra da língua,
Porque sonora, tonitroante: bunda!

E que não se corem as pudicas
Porque leram a palavra bunda.
Há nelas também, ostentação
Contrariada, uma bunda envergonhada,
Que como todas as outras
Existe para ser admirada.

Lição política e afirmação religiosa,
As bundas nos fazem iguais
(quem não tem bunda?):
Bundas burguesas, bundas proletárias,
Bundas companheiras, bundas adversárias;
Bundas salvas, a caminho do paraíso,
E bundas perdidas, pecaminosas,
 Permitindo-se a prazeres proibidos,
Divididos, em momentos precisos.

Bunda, gênese e armagedon,
Troféu no panteon, loucura máxima
Que se ostenta nas areias das praias
Ou se esconde em calcinhas e saias,
Mas sempre arrancando dos olhos
Tensão e agonia, desejo de orgia
Pronta para se anunciar em camas,
Como cartão de visitas que anuncia
A doce e terna chegada da poesia.

Francisco Costa

Rio, 18/03/2014.

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