sexta-feira, 28 de março de 2014

Agora, aqui, deitado nesta rede,
Ouvindo Lionel Richie, permito-me
À modorra ornada de pensamentos,
Buscando a razão do racismo.

Não do racismo filho do preconceito
Justificando consciências modeladas:
Negro é burro, por isso explorado.
Negro não tem alma, por isso escravo.
Negro é sujo, por isso em senzalas,
Sarjetas, becos, lixões, favelas...
Negro é periculoso, por isso apartado.

Sobre isso não penso porque torpeza
De consciências em auto-anestesia,
Atribuindo a outro o que em si habita.

A questão que ora me perturba
É a da estética do dizer feio o belo
Que escapa da origem e chega a mim,
Retinas ocupadas na sedução do negro.

Convoco a falange de Pretos Velhos
E lá estão sorrisos permanentes e doces
Emoldurados em cabelos brancos
E bondade estampada: Mandela!

Chamo a falange de guerreiros, homens
Blindados em músculos e determinação,
E me acode Zumbi dos Palmares.

Agora a falange de poetas e cantadores,
E mal cabem na varanda, aos muitos,
Dedilhando as mágicas liras da poesia.

Falanges outras mil eu poderia invocar,
Mas a urgência do prazer me chama,
Esta negra, pura carne e hormônios,
Que acreditada mucama, é toda mulher
Incorporando-me porção negra na cama,
Em louvor à negritude que me sustenta.

De todas as deformações humanas
O racismo é a mais nojenta.

Francisco Costa

Rio, 15/03/2014.

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