Em meu
sítio,
Arborizado e
de rica fauna,
Há um
cantinho cemitério.
É lá que
deixo meus pedaços,
Corpinhos
mortos, abandonados,
Dos que me
coloriram os dias,
Em abanos de
caudas, trinados,
Carícias em
linguagens próprias,
Que me
alentaram em carícias.
É lá que os
enterro e me despeço.
Quando bate
o cansaço ou a preguiça,
Simplesmente
os jogo, abandonados,
E dou as
costas, um pouco menor.
Ocasionalmente
a vaidade vem me visitar,
Acompanhada
da soberba, do egoísmo
E me sinto
Petrarca, Dante ou Camões,
Erigindo-me
maior e melhor, o máximo.
Quando isso
acontece, disfarço
E os vou
visitar já anônimos,
Disformes,
reduzidos a quase nada.
O periquito,
pompom azul de pios
E piruetas
nos poleiros, cheira mal,
Reduzido a
plumas sujas e disformes.
Fede a
cadela que saltitava na sala,
Roçando-se
em minhas pernas,
Companheira
de lágrimas e redação
De versos
tristes, de abandono.
Liquefaz-se,
bichado, outro cão,
O meu vigia,
amigo que me protegia,
E não berra
mais o esqueleto seco
Do que foi
uma cabra um dia.
Ali há
silêncio e moscas, mal cheiro,
Ocasionais
urubus, vermes em ação.
Então volto
pra casa, despeço a vaidade
E todos os
seus acompanhantes,
Entendendo
que sou um deles, disfarçado.
Nem
Petrarca, nem Dante, nem Camões,
Só alguém
que se ocupa com versos
Enquanto a
última viagem não vem.
Francisco
Costa
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