sexta-feira, 7 de março de 2014

Busco-me como a criança
Que a si se busca na mãe,
Órfão de mim distraído,
Chutando latinhas por aí.

Vagabundo das coisas sérias,
Cultivo-me diferença,
Despropósito, desafinação
No coral dos realizadores.

Destoar, essa a minha missão,
Atravessar fora da faixa,
Ridicularizar o que se quer normal,
Modus vivendi, conviver social.

Nasci transverso, pronto a destoar,
Fazer-me o cabelo na sopa
Dos moços bem comportados,
Trepando rápido na fila dos bancos,
Entre cheques e promissórias.

Meu pai fecundou a insatisfação,
Minha mãe pariu a impostura.
Com as mãos nos bolsos vazios
Passeio sorrisos e versos
Sobre o ridículo do existir.

Entre diarreias, guerras e deuses
O homem sonha galáxias
Certo de que imprescindível
E fazendo o certo.

A pretensão é a matéria prima
Da inocuidade paramentada
De gente sorrindo. De quê?

Francisco Cota

Rio, 23/02/2014.

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