sábado, 8 de março de 2014

PALHAÇO


Lá vai o palhaço.
Cartolinha de lantejoulas e camisa verde,
Multicolorida nos detalhes, a gravata
Vermelho berrante, e a maquiagem
Que o disfarça e esconde, clandestino
Na sensatez adormecida.

Leva um leque e se abana, com a chupeta
Enorme dependurada no peito, só risos
Aos passantes atentos a ele, o palhaço
De olhar escondido atrás dos óculos.

É o centro das atenções e das reverências,
Corpo em piruetas e malabarismos,
Expondo-se importância momentânea,
Em uso do Chaplin que nos habita,
Clandestino e calado, com seu cachorrinho.

E virá a quarta feira e ele se despirá, e nu
Lavará o suor e a maquiagem, todo o cansaço,
Pronto para se reiniciar nos trâmites tristes
Do cotidiano, mascando o anonimato cruel
Dos que só por três dias se assumem palhaços,
Disfarçando-se de cidadãos em dias comuns,
Sem marchas e sambas, alegorias e fantasias,
Fazendo chorar todos os versos e toda a poesia.

Francisco Costa

Rio, 01/03/2014.

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