Se até agora
vivi
Mais não foi
que para buscá-la.
Percorri
corpos femininos, atento e dedicado,
Em análise
permanente do que ali se escondia,
Certo de que
em cada um, de alguma maneira,
Declarada ou
dissimulada, você estava, poesia.
Fui aos
gritos das ruas, em greves e passeatas,
E você se
derramava aflita e concentrada,
Travestida
de gestos e palavras de ordem,
Ornada em
faixas, galhardetes, bandeiras.
Andei
sarjetas e marquises, bancos de jardins,
E você se
anunciou em sorrisos desdentados,
Cabelos
amarfanhados, cães abandonados,
Vestida de
feridas e caixas de papelão.
Caminhei
jardins, buscando teus sinônimos:
Flor, cor,
pássaros, luz, borboletas
Adejando
minhas retinas enamoradas de você,
Razão e
pretexto para eu viver.
Li textos,
muitos textos, onde você morava,
Em sensações
versificadas;
Olhei mães
amamentando, amanheceres...
Observei a
arquitetura vegetal, variedade
De formas me
dizendo: também estou aqui,
E lhe
enxerguei na lua, despudor que fascina,
Nas marés, o
balé das águas; no peixe fisgado,
Lucilação de
prata transmutando-se janta.
Estivemos
sempre tão juntos e misturados
Que já não
sei quem sou eu e quem é você,
Que me
roubou os olhos só para eu lhe ver.
Agora, no
ocaso da vida, nos versos finais,
É que
entendi: a vida humana é um poema
Que nasce
ode, vive canto e morre réquiem.
Viver é
isso, persegui-la incessante e contumaz,
Menstruando
na menina, ajudando em delitos,
Recolhendo
provas de que tudo tanto faz,
Porque se
bom ou ruim só ecos dos seus gritos
Exigindo
posse e permanência, atavicamente.
Viver é
isso, declamá-la, exaltá-la em dedicação
Nos palcos,
púlpitos, altares, ruas, camas...
Porque você
é a essência que norteia,
A alma que
nos habita, um sonho doido
Que se fez
carne e voz, vontades.
Sem poesia a
vida não se justifica, é rio seco,
Praia sem
sol, domingo com chuva, morte,
Como se no
mundo não houvesse ninguém.
Francisco
Costa
Rio,
20/03/2014.
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