terça-feira, 18 de março de 2014

POR DETERMINAÇÃO

(Pra minha neta, Jessica Louse, uma atleta)

Uma menina, como todas as outras,
Uma menina qualquer, anônima
Entre anônimas, com bonecas e sonhos.

Anônima no recreio da escola, simples
Aluna a mais entre alunas outras, iguais.

E adolesceu, agora menina mulher,
Resguardo de caprichos e vontades,
E a descoberta não do príncipe esperado,
Coisa de encanto e sonho acalentado,
Mas uma bola, adversárias, gols.

E fez do próprio corpo arma de vitórias,
Alavanca para a superação, mutação
De corpo estranho exigindo superação
Em função de um órgão a mais, a bola,
Teimosa, rebelde, em recusa de domínio.

Agora seria luta permanente com ela,
A bola espantando namorados e amigos,
Mastigando o tempo das diversões,
Ditando dieta e apartando bombons,
Coisas do álcool, vícios, manias...

Porque agora era de vício único, a bola;
De prazer único, a bola; e única mania:
Domar a bola, submeter a bola, levá-la
Ao gol adversário para descansar mansa
E vencida, rendida a uma vontade única
E duas mãos treinadas para amansá-la.

E vieram torções, distensões, cansaços...
E o assédio, porque carne treinada
Em movimentos, músculos de forja,
Rígidos, bem esculturados, sedutores...

Mas mais importante... A bola. A bola tirana
Submetendo tudo o que não ela, a bola,
Fetiche e desejo, obsessão, quase sexo.

Até o dia em que o suor se fez lágrimas.
Não como das vezes anteriores, de dor
Ou frustração por contusão ou derrota.

Lágrimas outras, nascidas de outra emoção.
Saiu, finalmente, a lista da seleção, e lá, ela,
A que acreditou que tudo mora numa bola.

Francisco Costa

Rio, 28/02/2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário