terça-feira, 18 de março de 2014

Preciso de um reset, uma reconfiguração
Em meu comportamento já cansado
De lutar com os fabricantes de escombros,
Os adoradores de ruínas, os guerrilheiros
De bandeiras rotas e ultrapassadas.

Próximo da fadiga, assisto-me desistência
No trânsito da acomodação, rendição
À hegemonia dos que querem o pior
E lutam pelo luto, o silêncio, a escuridão.

As convicções saltaram dos livros, fugiram
Dos experimentos e observações,
Navegam agora em convicções pessoais
Saídas do nada, por instinto ou modismo,
Revelações divinas, palpites, opiniões
Sem respaldo nem consistência, falsos.

Todo mundo virou doutor em tudo, sabe
Tudo de tudo, ainda que não alfabetizados,
Vivendo sem incógnitas e sem curiosidades.

Os filósofos foram aposentados, os sábios
Agora ditam conselhos na televisão,
Orientam rebanhos de alienação homogênea
Declinando do próprio direito de ser, para ter.

Lentamente a humanidade caminha
Para o automatismo e a execução cega
Do divórcio que a apartará de si.

Livre do espírito, enfim o reino do ódio
E da violência, da exploração, do vazio
Existencial caminhando em solidão,
Com o apoio inconsciente das vítimas.

Isso é de cansar e impor desistência.
Sou só um homem velho, quase vencido,
Mas dentro de mim, no mais íntimo de mim,
Sobrevive ainda um demônio que ordena:
Resiste!

Francisco Costa

Rio, 03/03/2014.

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