sexta-feira, 28 de março de 2014

A Copa vem aí.
Eu desconfio
Porque o ar está leve,
Verdamarelo,
Em brisa morna
De paz estampada.

Sinto cheiro de gol,
De palavrões
Em lábios pouco afeitos
Aos impropérios da pátria,
Aquela população de onze
Em combates de chutes.

Aquele moço tirou a máscara,
O guerrilheiro se desarmou,
Os estudantes mataram aulas,
E a campanha eleitoral calou,
Está suspensa, sem partidos
Porque agora um país inteiro.

Sem revolução e sem tiros,
Sem reformas e sem leis,
As classes foram abolidas,
E nas ruas abraçam-se juntos
O mendigo e o burguês,
Por conta de mais um gol.

Se chove ou se ensolara tudo,
Que diferença ou prejuízo traz?
O importante é o impedimento,
A lateral, o tiro de canto, o gol,
Aquele balé de pernas e gestos
Coadjuvando a rainha, a bola.

Por um mês o mundo será outro,
Parado, de conflitos suspensos
E ações estáveis nos pregões
E praças, quartéis e camas,
Porque o homem terá criado
Juízo e se reencontrado,
Trocando as balas por bolas.

Francisco Costa.

Rio, 26/03/2014.
Agora, aqui, deitado nesta rede,
Ouvindo Lionel Richie, permito-me
À modorra ornada de pensamentos,
Buscando a razão do racismo.

Não do racismo filho do preconceito
Justificando consciências modeladas:
Negro é burro, por isso explorado.
Negro não tem alma, por isso escravo.
Negro é sujo, por isso em senzalas,
Sarjetas, becos, lixões, favelas...
Negro é periculoso, por isso apartado.

Sobre isso não penso porque torpeza
De consciências em auto-anestesia,
Atribuindo a outro o que em si habita.

A questão que ora me perturba
É a da estética do dizer feio o belo
Que escapa da origem e chega a mim,
Retinas ocupadas na sedução do negro.

Convoco a falange de Pretos Velhos
E lá estão sorrisos permanentes e doces
Emoldurados em cabelos brancos
E bondade estampada: Mandela!

Chamo a falange de guerreiros, homens
Blindados em músculos e determinação,
E me acode Zumbi dos Palmares.

Agora a falange de poetas e cantadores,
E mal cabem na varanda, aos muitos,
Dedilhando as mágicas liras da poesia.

Falanges outras mil eu poderia invocar,
Mas a urgência do prazer me chama,
Esta negra, pura carne e hormônios,
Que acreditada mucama, é toda mulher
Incorporando-me porção negra na cama,
Em louvor à negritude que me sustenta.

De todas as deformações humanas
O racismo é a mais nojenta.

Francisco Costa

Rio, 15/03/2014.

Careço já dos teus préstimos,
Do teu corpo embebido em hormônios,
Da tua voz cotidiana em meus ouvidos.

Súbito tornei-me parcial, incompleto,
Só pedaço reclamando complemento,
Animal que te fareja e te olha, te quer.

Rendido ao espanto e miúdo, latejo
A tua ausência de claridade que revela
E irreleva o que mais não seja sonho,

Imaginária cópula em curso, primavera
Em qualquer estação do ano, baldeação
No que se pode sorrisos e realização.

Há em mim agora um vazio permanente,
Um estar oco, sem sentido ou explicação,
Como um corpo devoluto, perdido em si,
Sem saída e sem solução, e para sempre.

Entre o meu olhar de procura
E a minha voz de espera
Uma lágrima se aninha
E me desespera
Em noite escura.

A esmo e só, a minha alma caminha,
Vivendo só de sonhados encontros.

Francisco Costa
Rio, 23/03/2014.


REALISTA DEMAIS

Quero  escrever um poema erótico,
Preciso escrever um poema erótico,
Mas não um poema qualquer, inútil
Na pretensão de acordar instintos.

Quero um poema avassalador, total,
Umedecendo as moças desavisadas,
Pondo rijos os meninos desatentos.

Eu quero um poema sacana, imoral,
De vocabulário puro hormônios
E prazer desmedido, avassalador,
Capaz de arrancar gemidos e gritos
Nas entranhas do excitado leitor.

Eu quero um poema de sensualidade
Posta na mesa, no livro, no dia morno
Que mantém sonolentos e inúteis
Os instintos mais primários e urgentes,
Agora dormitando alheios, quentes.

Que o diga imoral a senhora pudica
De xavasca aposentada. Pornográfico,
O beato psicologicamente eunuco,
De pau supérfluo, incomodando.

Que exijam respeito os comentadores,
Administradores, leitores, curtidores...
Cinicamente guardando para logo mais
Esses doces pecados que, por inocentes
Já nascem perdoados. Eu quero sexo!

Poemas assexuados são jardins vazios,
De cor única, um verde frio, insosso,
Sem os matizes multicoloridos e doces
De doces orgasmos desbragados,
Essa incipiência constante e declarada
Fingindo-se escondida em cada tarada.

Não me venham com teorias literárias,
Tratados filosóficos, leis divinas...
Todos esses freios ao maior dos instintos:
Ter nas mãos a posse do outro, integral,
Em volúpia tanta e tão fundamental
Que tudo e qualquer coisa é só uma rima
Para a felicidade concentrada num instante,
Reduzida a uma xana, um pau.

Eu quero um poema sexuado, humano,
Encharcado de hormônios, animal.

Francisco Costa

Rio, 14/03/2014.

CONVICTO

(em resposta a um poema de pessimismo,
De um amigo, e que li agora)

Reafirmo a minha convicção no homem,
Bípede que se livrou das penas e escamas
Porque nascido para a transparência.

Convicto da flagrante infantilidade humana,
Que brincando erige monumentos, obras
De arte, altera a natureza, faz guerras, mata
Com a displicência infantil dos inocentes
De prontidão, esperando a maturidade.

Não serão os discursos do ódio, o dinheiro,
Comezinhas explicações, tolas teorias,
Que me farão abrir mão da esperança
Para plantar safras de dias oprimidos
Por onipresente pessimismo, padrasto
Do que não se pode em sorrisos e festas.

Eu acredito no homem, espécie a mais que,
Como toda criança se crê o eixo de tudo,
Peça obrigatória, componente principal
Do que só entende parte, e deturpada
Por sentidos limitados e passos trôpegos.

Acredito porque tudo evolui, tudo cresce,
E logo a maturidade nos emancipará
Dos grilhões que nos aferroam ao passado.

Onde houver um homem haverá
A consciência de que amanhã será melhor,
Que no museu do tempo jazerão as teorias
Que justificaram os gritos, a fome, as guerras.

Neste dia homem será homem,
Menino será menino,
Porque não haverá exploração para os igualar.

Francisco Costa

Rio, 23/03/2014.
Convidaram-me a marchar
Com as famílias e com Deus.

Não fui.

A princípio tomei-me de remorsos:
Como deixar Deus sozinho, na rua?

Mas depois descobri aliviado
Que as famílias também não foram.

E se não havia famílias
Deus também não estava.

Francisco Costa
Rio, 23/03/2014.


PRA TIEZA CONSOLAÇÃO, in memoriam

De repente o sorriso se torna estrangeiro,
Ininteligível e distante, incompreensível,
Ausente porque absolutamente inútil.

Já não fluem fácil as brincadeiras e chistes,
Os apelidos, as piadas, o mote das risadas,
Vai ficar faltando uma, e isso dói.

Poderia a morte procurar a anciã cansada,
O velho que de tão triste já não dorme,
O que já não quer vida e namora a morte.

Mas não, pouco seletiva e radical, malvada,
Ela escolhe aleatória entre os felizes, alegres,
Vestido com o encanto do que se pode belo.

Não terei mais comentários de Tieza,
Os kkkk das minhas idiotices postadas,
As curtições, os desejos de bom dia.

Tieza  agora é só uma imagem na memória,
Só um vulto de simpatia e beleza,
Alheia aos amigos que seguem com a história.

Tieza despiu-se do corpo, e não sei onde
Não precisará mais sorrir, modificada,
Porque agora é um sorriso absoluto
Em nossa saudade marcada.

Nada sei de anjos, mas sei de gente.
Tieza agora deve estar contente,
A mesma, feliz e sorridente,
Mas só que em endereço diferente.

Francisco Costa

Rio, 20/03/2014.

DEPRÊ DE OUTONO

(Ouvindo The Platters)

Prisioneiro de muitas canções,
Ouço-as em contrição de lembrança,
Debruçado no que não existe mais.

São momentos ricos de detalhes,
Rostos que se perderam no tempo,
Por aí, talvez lembrando de mim.

Rostos que já não existem, fixados
Nos palpos da morte, no nunca mais.

A música pode isso, nos acordar
O que só esquecido não incomoda,
Cordas que pensávamos atadas
E se romperam, permitindo partidas.

Quisera-me de pedra, duro e seco,
Impróprio a ser ferido,
Incapaz de lágrimas,
Sem esse vazio que me prostra
E obriga ao poema
Mesmo sem ter vontade.

Eu não queria um mundo grande assim,
Gente tão complicada assim,
Tanto a saber e sem ter como saber,
Um simples verme enterrado no chão,
Sonhando estrelas, o existir de um céu.

O que dói não são os limites,
É saber que depois dos limites
Existe mais, e não conseguir ver.

Invejo a felicidade dos que se bastam,
Dos que a si só se perguntam
A cor da blusa que irão comprar.

Francisco Costa

Rio, 21/03/2014.

HISTÓRIA ANTIGA

Sabe aquela canção que ouvíamos,
Um no outro, como se apenas um,
Alheios e imunes ao mundo, a sós,
Viajando-nos no ritmo da canção?

Eu a estou ouvindo agora, sozinho,
Num turbilhão de emoções antigas
Que insistem e perturbam, reduzem
Um homem a ser só a sua memória.

Entre o acorde primeiro e o último,
Minha mente caminha a intimidade
De segredos repetidos em cada nota,
Como se confidenciados outra vez,
Agora a pouco, entre mãos e beijos.

Sei bem onde estás, acompanhada,
De aliança e título em cartório, filha,
Marido, afazeres domésticos...

E imagino, apenas imagino, triste,
Que se o tempo, tirano de corações,
Pudesse voltar, eu voltaria ao rádio,
Pra te dizer: eu acabei de tocar
La Mia Storia Tra Le Ditá,
A minha história entre os dedos.

Francisco Costa.

Rio, 24/03/2014.

AMIGO VIRTUAL

Imateriais amigos
Que moram na minha imaginação,
Sem corpo, hálitos, olhares...
Só e pura emoção.

Amigos que não exigem
Porque longe, só se dando
Em sentimentos digitados.

Amigos mais que amigos
Porque impróprios à posse
À obrigatoriedade da convivência,
À partilha dos pruridos do mau humor,
Das frustrações mostradas em gestos,
Ainda que inconscientes,
Permanecendo calados, quietos,
Sem comentar ou curtir, partilhar,
Quando discordantes.

De palavras generosas, abundantes,
Quando contaminados,
Aliciados porque concordantes.

Amigos ideais porque idealizados,
Cúmplices e parceiros, companheiros,
Sempre na tela do monitor,
Manhã, tarde, noite, madrugada,
Como se fossem a esperada namorada
Com as mãos cheias de amor.

Bálsamos no estar só,
Terapias da solidão.

Amigos nascidos da tecnologia,
Irmanados em curiosidade e poesia,
Atravessando céus e oceanos,
Em radical desejo de se abraçarem
De verdade, quem sabe, talvez...
Um dia.

Francisco Costa

Rio, 26/03/2014.
Meus sonhos?
Eu os tenho guardados
Num pote de segredos.

Revelados, me revelariam
E me deixariam nu, a mercê
De salteadores de sentimentos.

Há sim os sonhos triviais,
Dando conta do dia a dia,
Os sonhos surreais,
De impossível decifração.

Sonhos eróticos, libidinosos,
Onde me revelo tarado que,
Quando acordado se abstém.

Sonhos tristes ou trágicos,
Os mais duradouros e reais,
Durando noite inteira
Para mais preocupar.

Há até os sonhos infantis,
Lotadinhos de fadas e gnomos
Esvoaçando o jardim em frente
Ou passeando na cabeceira.

Mas os sonhos mais queridos,
São os que não cabem no pote,
Nem na noite, nem em mim,
Porque grandes o bastante
Para virar os versos que declamo
Ou explodirem numa declaração:
Eu te amo!

Francisco Costa

Rio, 27/03/2014.

YESTERDAY

Navego agora nesses acordes,
Conduzido a mim ontem
Sem saber do que me escondiam.

Eu não me sabia leve, flutuante,
Capaz de voos e permanências.

Logo impuseram-me cargas,
Fardos pesados de carregar:
Preceitos, conceitos, preconceitos,
Necessidade de opiniões,
Posicionamentos, atitudes
Decisões... Despindo-me do menino
Que se acreditava absoluto,
Senhor do reino e da existência.

Foi tanta e tão incipiente carga
Que agora, trôpego e só, cansado,
Relativo, referência do que carrega,
Quero só o descanso, o alheamento,
O descompromisso daquele menino
Sentado na calçada, ouvindo Beatles.

Francisco Costa

Rio, 27/03/2014.

TIQUE TAQUE

Preciso gerenciar melhor o meu tempo,
Apartar em lotes os afazeres, separar
Urgências e adiamentos, o para depois.

Urge que eu veja essas flores matinais
E cumprimente o bem te vi vagabundo
Que insiste em minha janela, distraído.

Há pressa em que me beijem e abracem,
Em comunhão de delírios e fantasias,
Tirando-me daqui agastado e enfadonho.

Já as lágrimas deixo-as para amanhã,
Para que venham juntas com o cansaço,
A dor, as decepções de amor, os adeuses.

Meu relógio é doido, acelera-se sempre
Que estou sorrindo e se retarda no luto,
Em tique taques variáveis no meu peito.

Só temo que a corda esteja acabando.
Não sei se parará no tique de um sorriso
Ou no taque dessa infinita solidão.

Se no taque, não sei o que fazer.
Se no tique, componho uma canção.

Francisco Costa

Rio, 22/03/2014.

DIA UNIVERSAL DA POESIA

Se até agora vivi
Mais não foi que para buscá-la.

Percorri corpos femininos, atento e dedicado,
Em análise permanente do que ali se escondia,
Certo de que em cada um, de alguma maneira,
Declarada ou dissimulada, você estava, poesia.

Fui aos gritos das ruas, em greves e passeatas,
E você se derramava aflita e concentrada,
Travestida de gestos e palavras de ordem,
Ornada em faixas, galhardetes, bandeiras.

Andei sarjetas e marquises, bancos de jardins,
E você se anunciou em sorrisos desdentados,
Cabelos amarfanhados, cães abandonados,
Vestida de feridas e caixas de papelão.

Caminhei jardins, buscando teus sinônimos:
Flor, cor, pássaros, luz, borboletas
Adejando minhas retinas enamoradas de você,
Razão e pretexto para eu viver.

Li textos, muitos textos, onde você morava,
Em sensações versificadas;
Olhei mães amamentando, amanheceres...
Observei a arquitetura vegetal, variedade
De formas me dizendo: também estou aqui,
E lhe enxerguei na lua, despudor que fascina,
Nas marés, o balé das águas; no peixe fisgado,
Lucilação de prata transmutando-se janta.

Estivemos sempre tão juntos e misturados
Que já não sei quem sou eu e quem é você,
Que me roubou os olhos só para eu lhe ver.

Agora, no ocaso da vida, nos versos finais,
É que entendi: a vida humana é um poema
Que nasce ode, vive canto e morre réquiem.

Viver é isso, persegui-la incessante e contumaz,
Menstruando na menina, ajudando em delitos,
Recolhendo provas de que tudo tanto faz,
Porque se bom ou ruim só ecos dos seus gritos
Exigindo posse e permanência, atavicamente.

Viver é isso, declamá-la, exaltá-la em dedicação
Nos palcos, púlpitos, altares, ruas, camas...
Porque você é a essência que norteia,
A alma que nos habita, um sonho doido
Que se fez carne e voz, vontades.

Sem poesia a vida não se justifica, é rio seco,
Praia sem sol, domingo com chuva, morte,
Como se no mundo não houvesse ninguém.

Francisco Costa

Rio, 20/03/2014.
Sei que sou disperso,
Dividido, multifacetado,
Em busca permanente
Do que sequer presumo.

Ora é um bicho ou planta,
Um verso novo , nova cor,
Qualquer coisa diferente
Que se passa despercebida,
Distraída, a muita gente.

Há os discursos políticos,
A curiosidade científica,
Pequenos afazeres chatos
Que exigem provimento
Urgente e imediato.

Não bastasse, há os sonhos
Que me consomem muito,
Me apartando de tudo mais.

Perdão por eu ser temporário
No que você quer permanência,
Só relance de passagem, rápido,
Quando você me quer ancorado.

Só sei viver assim, apressado,
Entre olás e adeuses,
Quase sempre longe.

Se é longe que clamo e declamo,
Não reclame, eu ainda te amo.

Francisco Costa

Rio, 21/03/2014.

BUNDAL APOLOGIA

Sim, as bundas,
As rotundas partes,
Furibundas em riste,
Exigindo distância
E respeito.

Sim, as bundas,
Protuberâncias
Em carne e curvas
Que se projetam
Em imaginações.

As desejadas bundas,
De formas várias
Espantando o tédio
E atraindo o olhar.

As bundinhas, discretas,
Pouco mais que insinuadas,
Comedidas e tranquilinhas,
Como quem não quer nada.

Os bundões exagerados,
Cúpula de prazeres desbragados,
Enormes, convites a mal comportados.

As maciinhas, sensíveis e choronas,
Sempre assustadas, e as encorpadas,
Rijas em desafio, desaforadas,
Afeitas a beliscos e mordidas.

Bundas... Ah! As bundas,
Esses musculares relevos
Nos mapas da fascinação,
Esse desejar de sim
Que quase sempre é não.

Ainda que belas não fossem,
Restaria a sonoridade,
No dizer de Drummond de Andrade
A mais bela palavra da língua,
Porque sonora, tonitroante: bunda!

E que não se corem as pudicas
Porque leram a palavra bunda.
Há nelas também, ostentação
Contrariada, uma bunda envergonhada,
Que como todas as outras
Existe para ser admirada.

Lição política e afirmação religiosa,
As bundas nos fazem iguais
(quem não tem bunda?):
Bundas burguesas, bundas proletárias,
Bundas companheiras, bundas adversárias;
Bundas salvas, a caminho do paraíso,
E bundas perdidas, pecaminosas,
 Permitindo-se a prazeres proibidos,
Divididos, em momentos precisos.

Bunda, gênese e armagedon,
Troféu no panteon, loucura máxima
Que se ostenta nas areias das praias
Ou se esconde em calcinhas e saias,
Mas sempre arrancando dos olhos
Tensão e agonia, desejo de orgia
Pronta para se anunciar em camas,
Como cartão de visitas que anuncia
A doce e terna chegada da poesia.

Francisco Costa

Rio, 18/03/2014.
Uma foto no perfil, não mais,
E o que seria matéria de imaginação
Materializa-se quase carne, sedução.

Mais que imagem, ideia fixa, perdição,
É vontade e vocação espraiada na tela,
Semeando pensamentos, imaginação
Que rói, corrói, quase destrói o corpo
Rijo, teso, tenso, ereto em fome tanta
Que tonto, viaja e a encontra, redenção,
Rendição .

Francisco Costa

Rio, 24/03/2014.

terça-feira, 18 de março de 2014










Vergo-me, inclino, bambeio
Mas não caio, prossigo.

Amante de dias longos,
Namorado das noites
Fiz-me pasto de conflitos,
Pescador de sonhos,
Bateia no garimpo da utopia.

Esta a sina e destino, dever:
Não me curvar às chuvas
Porque sabedor do sol ,
Não me deter nas curvas
Porque adiante as retas.

Nasci para malversar fundos,
Estelionatar a ordem posta,
Atrapalhar o trânsito calmo
Dos que se supõem donos.

Esta a minha sina, romper
Certezas de continuidades
E ajudar a edificar o novo.

Ora com versos
Ora com gritos
Cumpro o doloroso dever
De incomodar, me contrapor
Ao que é simples pereba
Pretendendo-se câncer.

Esta a minha sina, resistir.

Francisco Costa

Rio, 07/03/2014.

POR DETERMINAÇÃO

(Pra minha neta, Jessica Louse, uma atleta)

Uma menina, como todas as outras,
Uma menina qualquer, anônima
Entre anônimas, com bonecas e sonhos.

Anônima no recreio da escola, simples
Aluna a mais entre alunas outras, iguais.

E adolesceu, agora menina mulher,
Resguardo de caprichos e vontades,
E a descoberta não do príncipe esperado,
Coisa de encanto e sonho acalentado,
Mas uma bola, adversárias, gols.

E fez do próprio corpo arma de vitórias,
Alavanca para a superação, mutação
De corpo estranho exigindo superação
Em função de um órgão a mais, a bola,
Teimosa, rebelde, em recusa de domínio.

Agora seria luta permanente com ela,
A bola espantando namorados e amigos,
Mastigando o tempo das diversões,
Ditando dieta e apartando bombons,
Coisas do álcool, vícios, manias...

Porque agora era de vício único, a bola;
De prazer único, a bola; e única mania:
Domar a bola, submeter a bola, levá-la
Ao gol adversário para descansar mansa
E vencida, rendida a uma vontade única
E duas mãos treinadas para amansá-la.

E vieram torções, distensões, cansaços...
E o assédio, porque carne treinada
Em movimentos, músculos de forja,
Rígidos, bem esculturados, sedutores...

Mas mais importante... A bola. A bola tirana
Submetendo tudo o que não ela, a bola,
Fetiche e desejo, obsessão, quase sexo.

Até o dia em que o suor se fez lágrimas.
Não como das vezes anteriores, de dor
Ou frustração por contusão ou derrota.

Lágrimas outras, nascidas de outra emoção.
Saiu, finalmente, a lista da seleção, e lá, ela,
A que acreditou que tudo mora numa bola.

Francisco Costa

Rio, 28/02/2014.