segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

USINA NA PRAIA

Fundem-se velhice e infância,
Em simbiose.
Estou  na praia, água nos joelhos,
Atento aos siris nos puçás.

Sopra brisa estival, morna,
Pondo balé nos coqueiros,
E o sol escorre aquecendo a areia.

Sou  só um menino atento,
Pronto aos siris e aos sonhos,
Mastigando sardinha frita
E segredos que  a via desvendaria.

Hoje  voltei lá, para lembrar.
As cabanas dos pescadores sumiram,
Aterradas por um depósito de óleo.

No lugar das biroscas, silos de álcool,
E as varandas migraram para o nunca.

Já não há areia, submersa no concreto,
E a água, maresia e sal, casa dos siris,
É uma coisa negra, quase pastosa,
Cheirando a defunto e gasolina.

Não só o tempo não flui ao inverso.
As paisagens e os momentos
Também se perdem, distraídos,
No fluir dos calendários.

Mataram minha infância, meus siris,
Meu encanto e um pedaço do mundo,
Contaminados de estranha forma de câncer,
A que me ensinaram a chamar progresso.

Francisco Costa

Rio, 10/02/2014.

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