Cerco-me de
percalços, deliberadamente,
Fugindo do
marasmo que se anuncia chato,
Descabido,
afeito a velhinhos de pijamas,
Alisando
gatos, curioso do último capítulo
Da novela,
do resultado da loteria, do jogo
De ontem, em
aguardo da morte próxima.
Recuso-me ao
comodismo fácil dos velhos
Despidos da
fome de coisas novas, talhadas
Para o dia
de amanhã, certo e programado,
Recheado de
atividades inusitadas e ações
Interrompidas
porque de longo prazo.
Não aprendi
do ócio e do descanso, do sono
Fora de hora,
quando o dia reclama atos.
Se me ponho
na cadeira de balanço, logo
Uma roseira
reclama poda, a varanda implora
Vassoura, a
água do café ferve no fogo, alguém
Chama no
portão, preciso cortar as unhas...
Até o corpo
reclamar o aposentar, a inatividade.
É nessa hora
que recebo visitas inesperadas,
Multidões de
palavras querendo-se ordenadas.
Esquecido do
velhinho exausto, desmilinguido,
Chamo o
menino que me ajuda e dou a ordem
Para que
faça o que não sei mais fazer, esqueci.
Então,
quando o dia amanhece, me surpreendo
Com esses
poemas surgidos não sei de onde,
Pedindo que eu
desvende o que não compreendo.
Há, entre
mim e esse menino, uma cumplicidade
De mais de
meio século, de tal modo íntimos
Que já não
sei mais quem sou eu, morrendo,
E esse menino,
permanentemente nascendo.
Francisco
Costa
Rio,
14/02/2014.
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