Os poemas
pelos quais choro?
Pelos
natimortos,
Os que se
quiseram ostentados
Aos olhos do
leitor e morreram
Antes mesmo
do ar da graça.
Muitos
surpreenderam-me absorto
Em
atividades outras, compenetrado:
Em salas de
aulas, entre mitocôndrias
E
emparelhamentos eletrônicos
De spins
contrários, como casais
Numa dança
imaginária, os alunos
Atentos à
música redigida no quadro.
Outros
chegaram comigo no atelier,
Reedificando-me
cores e formas,
Compondo
poemas visuais,
Derretendo-me
tintas e solventes
Na
consecução de poemas mudos,
Sem causar
incômodo ao silêncio.
Teve os
enxeridos, indiscretos,
Que chegaram
nas discussões conjugais,
Em diálogos
meus com contabilistas,
Fiscais,
gerentes de banco, financistas,
Intrometendo
letras entre números,
E os que me
flagraram em camas,
Redigindo
carícias em papéis de carne,
Procurando a
rima mais rara
Em versos
precisos, declinando-me
Poeta para
ser não mais que um homem.
Ah! E os sem
senso, maluquinhos
E
inoportunos, surpreendendo-me
Em passeatas
e concentrações, comícios,
Comigo no
microfone, contribuindo
Com a
história e os sorrisos dos herdeiros.
Os que se
assanharam em praias,
Entre
gaivotas, brisa, mar e bundas,
Lendo a
poesia diretamente na fonte;
Os que se
quiseram urgentes
Quando eu
era preguiça e sono;
Os que se
pretenderam sexo
Comigo
exausto, em pleno intervalo,
E os que se
pretenderam armistício
Justo quando
eu estava no melhor da briga.
Estes
ninguém leu e muitos esqueci,
Natimorreram
porque fora de hora,
Extemporâneos,
perdidos em si,
Todos
atentos à nova encarnação
A qualquer
hora da noite ou do dia
Requisitando-me
novamente
Para nova
explosão de poesia.
Francisco
Costa
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