Minhas
lágrimas?
Eu as verti
quase todas
Sobre papéis
em branco,
Esperando
que se consumassem
Palavras
sentimentalizadas,
Borradas com
o mais íntimo de mim.
Salgadinhas
e cristalinas,
Escorreram
sobre corpos meninos
Com flores
esculpidas em sangue,
Desabrochadas
em peitos e testas,
Esperando o
Instituto Médico Legal.
Sem peias e
amarras, correram soltas,
Misturadas a
propinas e cala bocas,
Hidratando
cada corrupto de plantão.
Ocasionalmente
mal retidas,
Molharam
sarjetas de crianças com frio
E barrigas
adolescentes esperando frios
Que
dormitarão em novas sarjetas.
Prontas para
umedecerem a realidade,
Inundaram
tudo: palácios e casebres,
Manhãs
ensolaradas, tardes sombrias,
Noites de
temporais, reduzindo-me
A dois olhos
encharcados, digitando
A sonoridade
do silêncio lacrimoso
E triste,
vertendo lágrimas.
Mas nem
todas navegaram, macabras,
Em luto e
decepção, ira deslavada
Varrendo os
rituais da infame realidade.
Já chorei
sobre peitos femininos,
Condimentando
seios e palpitares,
Salgando
orgasmos que me perseguem
Na vontade e
na memória, eternizados
Porque
únicos, diferenciados e precisos.
Quantas
vezes me permiti corredeira
De lágrimas
desaguando abundante
Em líquidos
outros, íntimos, de entranhas
Quentes, só
carne e desejos, molhadas...
Quantas, nublando
chegadas e partidas,
Ornamentando
adeuses e boas vindas,
Livrando-me
do que se fez perecível,
Limitado,
porque já esgotado, acabado,
Ou de braços
abertos para a definitiva?
Quantas sem
motivo aparente, gratuitas,
Por causa de
uma música, uma foto...
Qualquer
coisa que ao simples passante
Soaria nada
ou muito pouco para lágrimas.
Segundo
poeta maior, somos fingidores,
E assumo o
meu fingimento, a mentira:
Fingi sempre
escrever poemas e versos,
Quando na
verdade eu só sabia chorar.
Este o nosso
ofício, verter lágrimas
Sobre papéis
em branco, verbalizando-as,
Em esforço
extremo de não sermos mais
Que as
lágrimas com que escrevemos.
Francisco
Costa
Rio,
08/02/2014.
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