sábado, 8 de fevereiro de 2014

ÚLTIMA CANÇÃO DO BAILE

Dancemos.
Que importa essa chuva
De minguados pingos
Anunciando aridez amanhã,
O discurso do demagogo,
A última canção de sucesso?

Dancemos por que já lá vai
A noite alta, constelada,
Em fundo de cintilâncias
Fazendo-se lençol pra lua,
Essa vadia amante de poetas,
Bêbados e enamorados.

Dancemos.
Ousemos nossos passos
Em pisar de nuvens
Ou algodão, maciez de lábios
Florescendo vermelhos
Em anúncios inesperados.

Dancemos.
Pouco importam os bandolins,
Se em reticências ou no texto,
Em contraponto de teclas
Nuas e claras, como sorrisos
Amanhecidos em bocas meninas
Se alimentando de espanto.

Dancemos.
Dancemos porque urge
O momento da despedida,
A canção última do baile,
Quando depois, só silêncio
De músicas mortas
E pés cansados.

Dancemos.

Francisco Costa

Rio, 07/02/2014.

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