sábado, 8 de fevereiro de 2014

MUSA PRIMEIRA

Eu te choro, musa primeira,
Paixão quase única e derradeira,
À qual me dei desde adolescente.

Ainda cheirando a cueiros e leite,
Sem ter conhecido calças compridas,
Eu a conheci num carnaval cívico,
De foguetório e bandeiras vermelhas,
Seguro nas mãos firmes de papai.

Depois tentaram  me subtraí-la,
Levando-a para sevícias e estupros,
Em câmaras de tortura e cárceres,
E eu ali, fiel consagrado, exigindo
Que ma devolvessem, mesmo ferida,
Exangue, ensanguentada, em agonia,
Sem a mesma graça de antes.

A custo soltaram-na já mulher, madura,
Esculpida em dor e ultraje, como puta,
Ansiosa de sentimentos desconhecidos.

E nos vi casados, depois do sim para sempre,
E nos imaginei com filhos, netos, bisnetos...
Navegando em felicidade e realizações.

Mas os homens maus voltaram ferozes
E pretendem tê-la de novo e de novo
Levá-la às sevícias, à exploração covarde
No bordel em que querem lhe transformar.

Mas agora não levarão fácil, meu amor.
Hoje somos muitos os dependentes
Que a querem livre e ao nosso alcance.

Experimentamos do seu seio e ele agradou.
Foram feitos para o amor, para carícias
E dedicação, e não para amamentar
Os vagabundos de plantão.

Francisco Costa

Rio, 05/02/2014.

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