sábado, 8 de fevereiro de 2014

BALADA DOS HIPÓCRITAS

Ah! Esses íntimos de Deus, porta vozes
De seus intentos e propósitos, vontades,
Íntimos como eu e me cão num domingo.

Ah! Esses que oram com cifras e pedem
A inauguração do paraíso aqui, urgente,
Com acesso a mercadorias  e produtos,
Porque o paraíso é material, tributável
Em dízimos, taxas, ofertas, doações.

Ah! Os que saltam sobre cadáveres
Encomendados pela fome e pelos tiros,
Evitam lugares ermos, áreas pobres,
Por medo, embora dizendo-se protegidos,
E acham tudo muito natural.

Ah! Os caçadores de comunistas e ateus,
No santo maniqueísmo, pão de cada dia,
De que “não pensa igual e mim é do diabo”.

Ah! Os que pedem coisas edificantes
Com palavras doces, de amor ao próximo:
“queima senhor!”, “mata, senhor”...
E agradece a Deus pelo câncer no inimigo.

Ah! Esses, de moral ilibada e proba,
Sem contradições, horrorizados
Vendo as mãos do cramunhão no instante
Em que dois gays se beijaram na televisão.

Tende piedade, Senhor.

Francisco Costa

Rio, 01/02/2014.

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