O que me dói
é o teu egoísmo,
O cuidar de
si e que se dane o resto.
Teus valores
são monetários,
Tuas
vontades têm preço,
E tua razão
de viver repousa
No dinheiro
que te dará acesso a tudo.
Se em algum
lugar alguém morre,
Solitário e abandonado,
de fome e sede,
A ti diz
pouco e pouco incomoda,
Não atinge
porque não atrapalha
O trânsito
das tuas ambições.
Nunca perdes
tempo com o próximo
Porque o
próximo é teu concorrente,
Ocupa lugar
na fila, te faz esperar,
E concorre
em concursos e acessa
O que
gostarias de ter sido o primeiro
A ter
acessado e tomado posse.
Este o teu
mundo, o das coisas,
Dos objetos,
dos utensílios,
Ferramentas
da tua felicidade
Apoiada no
ter, juntar, amealhar,
Porque tão
mais poderoso te sentes
Quanto com
mais guardado.
Tua mente
não pensa, contabiliza.
Teu peito
não arde, palpita de desejos,
Mas sempre
materiais, palpáveis,
Concretos,
próprios à subtração
De vontades,
porque saciadas.
Nisso reside
a tua coerência, em ter,
Não importa
a que preço imposto
Aos que
jamais irão ter.
Cristão ao
inverso, em mão oposta,
Transitas de
costas para o calvário,
Para
agências bancárias, templos
Onde repousa
tua divindade disfarçada.
Sobre todos
os iguais a ti ou assemelhados
Repousa a
indigência, a carência, a dor
Dos que se
sentem apartados da vida,
Com menos
para que possas ter mais.
Como não
admites nada em comum
Tudo o que
te contraria é comunismo.
Como dividir
é verbo estrangeiro e hostil
Não admites
cúmplice ou sócio,
Tudo o que
te nega é socialismo.
E babas ódio
e vociferas barbaridades,
Senhor da
verdade porque a verdade
Se basta e
se acaba no que tens,
Seja o pouco
conquistado
Ou o que
jamais terá, sonho eterno
Mobilizando-te
ao atropelo do próximo.
Outros,
iguais a ti, crucificaram,
Fizeram
tomar cicuta, torturaram,
Trabalharam
fogueiras e fuzilamentos,
Exterminaram
em fornos crematórios,
Com a mesma
justificativa de sempre:
Não pensam
iguais a mim, concorrem
E atrapalham
a mecânica do escambo,
Sobram no
mercado, precisam morrer.
És cínico,
dissimulado, irônico, ocupado
Em
desqualificar tudo o que não converge
Para o teu
sistema de ideias, pronto,
Acabado,
imune a conceitos novos
Porque o
novo é ameaça, insegurança,
Porque ainda
não tem preço.
Certo que
pensas que falo dos ricos. Não!,
Este modo de
ser não se mede
Pela
quantidade de moedas amealhadas,
É um estado
de espírito, um modo de ser,
Não importa
se só com um cofrinho
Ou uma gorda
conta secreta no exterior.
Robô do
capital que tens ou não,
Esperas que
tudo vire dinheiro
E que o
dinheiro mova o mundo.
O que não
sabes e nunca saberás
É que o
dinheiro não compra o tempo
Que flui
conspirando em favor da vida.
Podes
atrapalhá-la, retardá-la...
Mas jamais a
impedirás.
Um homem não
é um cofre, é mais.
Francisco
Costa
Rio,
19/02/2014.
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