domingo, 5 de abril de 2015

ADULTÉRIO

Hora  de eu me ir, até mais,
daqui a pouco o teu marido chega,
não me quero vítima nem agente
de crime passional, cara no jornal,
essa gente atirando as pedras
que não procuraste nem mereces.

Dirão apenas traidora, vagabunda,
a puta que não presta, sem saberem
dos polares ventos que sopraram
sobre ti e tua cama, por anos e anos,
desafiando a tua fidelidade imposta
por princípios, ordenando quieta.

Das tuas lágrimas de solidão, da dor,
nada dirão, avaliando no rótulo,
sem saber da essência ferida e só,
tateando carícias no escuro.

Não sabem que sobre ti pesaram
as aparências, o que dizer à família,
as convenções, castrando os dons
que enamorado descobri.

Menos sabem das tuas descobertas,
do acordar num corpo feminino,
capaz de gozos e êxtases, de voos
onde a alma humana se realiza.

Jamais saberão que a tua nudez,
parcial porque vestida de vergonha,
é agora devocional e completa,
livre da peça última que te vestia,
o pudor inquilino da desconfiança
que em ti habitava, mal amada.

E por nada saberem, segredo nosso,
te porão a nu à moral, criticando
o que adormecido acordou e vive,
mais querendo viver intensamente
porque só agora, tardia, se exerce.

Por isso é melhor que eu vá,
mas volto. Prometo. Até mais.

Francisco Costa
Rio, 25/01/2015.

Um comentário:

  1. É..., mulher se ferrava já no primeiro suspiro. Ainda bem que hoje em dia mulher que é mulher, sabe de seu valor e já não aceita o machismo.

    Morena Bittencourt Zimmermann Lopresti

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