Utópico, delicio-me às escâncaras
com o que em mim falta
porque procura constante,
busca que me faz relativo,
outro, antes, sem o que agora sei;
outro, daqui a pouco, com o que saberei.
Este o segredo de estar aqui: perquirir,
perguntar, farejar todo o não interdito,
e incorporar cada resposta a si,
fiel depositário de saberes.
Entre o modus vivendi das formigas
e a explosão de uma nova galáxia
pastam as teorias literárias e sociológicas,
o rock que escorre da casa do vizinho,
o trânsito nos corredores dos shoppings,
o sorriso da viúva sonhando o passado.
Somos o que sabemos, e de inalienável
só o que não se pode apartado,
presa de acidentes, perdas e boticões,
impróprio às compras e vendas,
às trocas, empréstimos e aluguéis
porque parte de nós caminhando.
Para onde?
Há os que vivem acrescentando dias,
sendo um em cada dia, em escalada,
e os que se repetem, repetindo o dia,
sempre o mesmo, vendo tudo parado,
como uma planta presa ao solo,
esperando a morte chegar.
Entre o remoto e o agora
uns se trouxeram,
outros se deixaram,
repetindo monótonos a dança de ontem,
certos de estarem certos
porque no ritmo da música que já silenciou.
Em tempo de semeaduras se recusam
porque ainda nômades coletores,
entre a providência divina e o acaso,
reduzidos a membros e fome,
esperando a verdade se inaugurar.
Francisco Costa
Rio, 23/03/2015.
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